Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
UM POUCO SOBRE O SEGURO DE AUTOMÓVEIS
A SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) pretende mudar as regras do seguro de veículos para diminuir a participação das grandes seguradoras na carteira. 16 de Julho de 2021A SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) pretende mudar as regras
do seguro de veículos para diminuir a participação das grandes seguradoras na
carteira. No mundo inteiro as grandes seguradoras de seguros gerais são as grandes
seguradoras de veículos, o que coloca a autarquia na contramão do setor. Mas
este não é o foco do artigo, até porque a SUSEP querer ou deixar de querer tem
muito menos importância do que as profundas transformações que o setor de
veículos e mobilidade em geral está atravessando no mundo inteiro.
As mudanças climáticas chegaram para valer e os países desenvolvidos
estão seriamente preocupados com suas consequências. A única forma de mudar o
quadro é agir consistentemente para reduzir ao máximo a emissão de gases do
efeito estufa, entre os quais estão os gases emitidos pelos escapamentos de
todos os tipos de veículos movidos por motores a explosão.
O resultado é que empresas fortemente vinculadas ao uso do petróleo, como
Exxon-Mobil e Volkswagen, estão adotando protocolos destinados a mudar
completamente sua imagem até o ano 2030. A maior produtora de petróleo do mundo
pretende modificar suas matrizes energéticas e a maior fabricante de automóveis
pretende ser também a maior fabricante de veículos elétricos, não apenas nos
Estados Unidos e Europa, mas em países como o Brasil, onde ela começa a
fornecer veículos elétricos para as frotas de distribuição de grandes empresas.
Mas não é só por esse lado que o setor se modifica. A falta de carros
zero quilômetros no país mostra o aumento do peso da informática embarcada nos
veículos mais modernos. Cada vez mais os computadores terão papel determinante
no funcionamento dos veículos. E a falta dos semicondutores no mercado mundial
expõe a dependência da indústria em relação a estes equipamentos, cuja produção
foi afetada, mundialmente, pela pandemia do coronavírus.
A mudança da matriz dos combustíveis e o uso intensivo da informática
seriam suficientes para colocar uma série de questões ainda não respondidas no
desenvolvimento de novos seguros para veículos. Mas o quadro vai muito além.
Novas formas de uso interferirão na sinistralidade e novos veículos criarão
cenários inéditos para os seguradores.
Não há como impedir a diminuição do peso da importância de ser
proprietário de um automóvel na forma de vida das novas gerações. Os jovens não
veem o carro como um diferencial criador de status, mas como um investimento
sem sentido e uma despesa desnecessária, que pode ser suprida com o seu compartilhamento,
o uso de veículos de aplicativos, o uso das redes públicas de transporte e o
uso de outras formas alternativas de locomoção, como bicicletas, skates,
patinetes motorizados, etc.
A produção mundial de veículos já vem apresentando queda no número de
automóveis anualmente comercializados e a tendência deve se acentuar. Ninguém
espera uma recuperação capaz de levar o setor aos patamares de alguns anos
atrás. Pelo contrário, o movimento da Ford, deixando de produzir no Brasil, é
indicativo da redução do total produzido e do redesenho dos modelos fabricados
por cada montadora. Além disso, é nítido o movimento de associação entre elas,
destinado a ganhar escala e reduzir preços.
Para completar o cenário, a entrada em cena dos veículos autônomos já é
uma realidade e o uso de drones para diferentes operações também já faz parte
do mundo real.
Os desafios decorrentes são gigantescos e colocam o setor de seguros sob
pressão porque suas respostas precisam ser rápidas para não deixar este
gigantesco segmento socioeconômico sem proteção securitária.
O que é cada vez mais evidente é que os novos produtos precisam entrar em
cena logo e que quem sair na frente levará uma enorme vantagem diante dos
concorrentes. Não são apenas as seguradoras que estão se movimentando. As
resseguradoras sabem que, sem sua capacidade e tecnologia, as seguradoras não
podem atender o mercado e que as que desenvolverem novos contratos mais
depressa levarão a maior parte do bolo.
É briga de cachorro grande. Não há espaço para amadores ou achismos. Quem
errar a mão ou não fizer a lição de casa está fora do jogo. E isto vale para o Brasil
também.