Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGURO E VIOLÊNCIA
Positivamente o seguro não gosta da violência. De qualquer tipo de violência. 13 de Maio de 2022Positivamente o seguro não gosta da violência. De qualquer tipo de
violência. Da violência da natureza em suas manifestações extremas, terremotos,
erupções vulcânicas, tsunamis, deslizamentos de terra, avalanches, etc. Da
violência do clima, com seus tufões, furacões, vendavais, tornados,
tempestades, granizo, nevascas, enchentes, secas e outros eventos do gênero. Da
violência da vida, na luta incessante de cada espécie pelo seu lugar ao sol, a
mais forte devorando a mais fraca. Da violência humana, nas guerras,
revoluções, insurgências, terrorismo, assassinatos, racismo, intolerância,
estupros, roubos e toda a série de maldades inventadas pelo ser humano para
fazer mal a seu semelhante.
O setor de seguros não gosta da violência porque a violência em si é ruim
para o ser humano e atinge a atividade seguradora na sua essência, causando
danos e prejuízos de todas as naturezas.
O negócio do seguro é indenizar perdas sofridas pelo segurado, repondo
seu patrimônio e sua capacidade de atuação, atingidos por eventos danosos que
causam perdas financeiras. A seguradora não assume o risco do segurado. Não há
como a seguradora morrer no lugar dele ou pegar fogo no lugar de sua casa. A
seguradora assume a obrigação de repor as perdas causadas por eventos aleatórios
e futuros previstos no contrato. E a maioria dessas perdas acontece em função
dos diferentes tipos de violência que podem atingir o ser humano, sua
capacidade de atuação e seu patrimônio.
É assim que o setor de seguros paga anualmente centenas de bilhões de
dólares em indenizações. Afinal, sua missão é exatamente esta. Assim, seria
inaceitável as seguradoras não pagarem os sinistros cobertos.
A primeira notícia sobre uma operação semelhante ao seguro moderno está
grafada em escrita cuneiforme, numa tábua com mais de quatro mil anos,
encontrada na Mesopotâmia. Daí para frente, o instituto se sofisticou e é
encontrado em momentos cruciais da história, como na rede de comércio das
cidades italianas, nas navegações portuguesas, na expansão do império britânico
e na proteção dos diferentes riscos atuais, cada vez maiores e desafiadores.
Ao longo dos últimos anos, o mundo tem enfrentado desafios dramáticos,
nas mudanças climáticas, nas crises sanitárias, na violência do ser humano
contra o planeta e do ser humano contra o ser humano. Os prejuízos superam os
trilhões de dólares anuais e apenas uma parte tem algum tipo de proteção,
incluído o seguro.
Todas as vezes que o Brasil é atingido pela violência do clima, da falta
de recursos para garantir a segurança social e das ações humanas o setor de
seguros é acionado para fazer sua parte e pagar as indenizações dos sinistros
cobertos. Ainda que com baixa penetração na sociedade, anualmente as
seguradoras brasileiras pagam bilhões de reais para seus segurados, reduzindo
uma conta extremamente pesada e invariavelmente mal paga pelo governo.
O objetivo do seguro é reduzir prejuízos. Por isso, reduzir a violência é
parte de suas ações.