Hospitais e seguradoras recorrem a startups para inovar e cortar custos
A Folha de S.Paulo completa que seguradoras, farmacêuticas e hospitais estão se associando a startups de saúde em busca de novas ideias para reduzir despesas, tornar processos mais ágeis e testar ou agregar novas tecnologias.
O número dessas empresas,
conhecidas como health techs, cresceu cerca de 20% no último ano, segundo dados
da Liga Venture, aceleradora que conecta grandes companhias a essas startups.
Já são 420 empresas de inovação
na área de saúde e bem-estar no Brasil, de acordo com a Abstartups (Associação
Brasileira de Startups), o que representa cerca de 4% do total do setor no
país. A maioria delas foi criada a partir de 2014.
'De um lado, os empreendedores
estão colocando suas soluções no mercado, que está reagindo positivamente a
elas; de outro, grandes empresas do setor recorrem às startups para fomentar a
inovação de forma livre', diz Raphael Augusto, da Liga Ventures.
Fundada em 2014 em Uberlândia
(MG), a Vitta ilustra esse movimento: a startup iniciou suas atividades com a
criação de uma ferramenta de prontuário eletrônico para médicos e software para
a gestão de consultórios e clínicas.
Em 2016, começou um plano de
expansão ao adquirir sua principal concorrente, a ClinicWeb, que foi o primeiro
prontuário eletrônico em nuvem do Brasil. A tecnologia hoje é utilizada por 15
mil médicos em 25 estados e por grandes empresas, como o Hospital Israelita
Albert Einstein e o laboratório Fleury.
Em 2018, a Vitta entrou no
segmento de gestão de planos de saúde de empresas, experiência que permitiu à
startup desbravar um nicho ainda inexplorado: neste ano, lançou o primeiro
plano voltado para funcionários de startups.
Para isso, associou-se a duas
operadoras já consolidadas, Unimed e Omint, em um modelo de negócios em que os
segurados têm acesso à rede médica e hospitalar da operadora parceira, além de
atendimento complementar 24h por meio de aplicativo, com médicos da rede da
startup.
O plano, que atende a partir de
três pessoas, tem preços 20% abaixo da média de mercado e admite ainda a
vinculação de pessoas jurídicas, porque muitos colaboradores de startups
prestam serviços nesse regime de contratação.
'As startups estão crescendo e
há uma demanda reprimida por seguros de saúde, mas o mercado não estava atento
a isso', afirma Thiago Barros, diretor da Vitta.
A aceitação do produto
surpreendeu - em dez meses de operação, o plano de saúde já tem carteira de 80
mil usuários, e a lista de espera de quem têm interesse em fazer o plano já
chega a 21 mil pessoas.
A Health.D, de São Paulo, é
outra que já está testando seu produto com grandes empresas.
A startup surgiu com a proposta
de utilizar dispositivos como relógios inteligentes e pulseiras com sensores
para monitorar em tempo real aspectos da saúde e comportamentais de pacientes,
como frequência cardíaca e pressão arterial.
Um aplicativo coleta e envia os
dados a uma plataforma que, por meio de IA (inteligência artificial), cruza essas
informações com bancos de dados de operadoras de planos de saúde e hospitais e
faz o acompanhamento dos indicadores clínicos do paciente, enviando alertas
quando a pessoa está entrando em situações de risco.
'Com a IA, será possível agir
em antecipação e ajudar a reduzir a sinistralidade das operadoras', Kleber
Santos, idealizador da startup.
A Health.D nasceu dentro da
FCamara, empresa brasileira de TI, e está validando seu modelo de negócios, que
deve consumir até o final do ano R$ 750 mil em investimentos.
'Com a internet das coisas,
qualquer dispositivo poderá ser integrado a bases de dados de hospitais e
operadoras', explica Bruna Souza, cofundadora da Health.D.
Santos já importou 150
pulseiras, que estão sendo utilizadas para monitorar a saúde de pacientes em
projetos pilotos realizados com hospitais e planos de saúde -o empresário não
divulga os nomes das empresas.
Além de companhias do setor,
muitas startups desenvolvem produtos para os profissionais de saúde.
A Pebmed cria aplicativos que
ajudam na tomada de decisão clínica. A inspiração para o primeiro produto foi o
livro de bolso dos médicos, usado para anotar referências sobre suas
especialidades.
Os sócios da startup traduziram
a ideia para o mundo digital com o aplicativo Whitebook, que reúne mais de
6.000 conteúdos, entre artigos, atualizações de condutas e diretrizes em 28
especialidades médicas.
'Queríamos desenvolver um
produto que ajudasse os profissionais de saúde na ponta, quando precisam tomar
decisões rápidas e de qualidade, sem precisar recorrer aos buscadores de
internet', diz Bruno Lagoeiro, médico e um dos fundadores da Pebmed.
A plataforma soma 200 mil
usuários ativos, que usam o aplicativo todos os meses, e 69 mil assinantes da
versão paga, que oferece mais recursos.
Neste ano, a startup lançou
outra ferramenta, agora para enfermeiros. O Nursebook traz mais de 700
conteúdos relacionados a condutas de enfermagem e já tem 4.500 profissionais
cadastrados.