Artigo: Graças aos SUS e aos planos de saúde privados, brasileiros atravessam este momento com menos danos
Por Antônio Penteado Mendonça, no Estadão
Entre abril de 2020 e abril de 2021, os planos de saúde
privados receberam pouco mais de 1 milhão de novos usuários. Se pensarmos que
esse período engloba momentos dramáticos da pandemia do coronavírus e do
desemprego decorrente dela, pode-se dizer que o desempenho foi muito bom.
Afinal, mais de 14 milhões de brasileiros perderam seus
empregos, 15 milhões desistiram de procurar emprego e 14 milhões de famílias
vivem com até R$ 90 por mês.
Com certeza não são eles que aumentaram o número de pessoas
cobertas e, se levarmos em conta que metade da população vive com um salário
mínimo por mês, veremos que, apesar dos impactos negativos da crise econômica
pré-coronavírus e dos estragos gigantescos causados pela pandemia, os planos de
saúde privados continuam atendendo boa parte do público com capacidade
econômica para contratá-los.
Os planos de saúde privados têm pouco mais de 48 milhões de
segurados, número abaixo dos 50 milhões que faziam parte do sistema até poucos
anos atrás, mas bastante razoável frente aos estragos diretos e indiretos que
chacoalharam a economia nacional no passado recente.
O aumento de 1 milhão de pessoas entre abril de 2020 e abril
deste ano é a confirmação do que se sabe faz tempo, mas que nem sempre é dito
com a isenção necessária ou com o destaque merecido. Os planos de saúde
privados estão entre os principais sonhos de consumo do brasileiro. E esta
posição não caiu do céu, nem foi conseguida de graça.
Os planos de saúde privados fazem a diferença porque,
invariavelmente, entregam aquilo que prometem.
Há problemas, solicitações não atendidas, falhas
operacionais? Sem dúvida nenhuma, há. E, quando ocorrem, podem significar danos
de monta para quem foi prejudicado.
Mas se levarmos em conta o número de procedimentos
autorizados pelos planos de saúde em um ano e a quantidade de processos
decorrentes das relações entre operadoras e beneficiários, veremos que a
judicialização é proporcionalmente pequena. Dando um número, com base no
balanço de uma grande operadora de planos de saúde privados, só ela, em 2019,
autorizou mais de 80 milhões de procedimentos.
De acordo com dados do mercado, as mais de 700 operadoras de
planos de saúde privados em operação no País autorizam, entre simples consultas
e cirurgias altamente sofisticadas, mais de 1 bilhão de procedimentos por ano.
Desde o início da pandemia, os planos de saúde privados têm
tido desempenho irreprochável. Ainda que alguém possa dizer que teve problemas
com seu plano por causa da covid-19, são casos absolutamente isolados, que não
refletem a realidade de uma rotina estressante e infindável, que se estende no
tempo desde o início de 2020 e sem data para terminar.
Se a pandemia mostrou para o Brasil o acerto da criação do
SUS e sua eficiência, também abriu um quadro novo sobre a eficiência e a
importância dos planos de saúde privados. É a soma dos dois sistemas que vai
permitindo que o Brasil atravesse este momento com menos danos do que seria de
se esperar, se a vontade do governo federal houvesse prevalecido.
Graças aos SUS e aos planos de saúde privados, os
brasileiros, sem vacinas e condenados a tomar cloroquina e outras tolices do
gênero, estariam morrendo em número muito maior, além de não terem atendimento
digno para tratar os doentes.
Há males que, se não vem para o bem, pelo menos mostram uma
realidade até então não percebida. É o caso da pandemia do coronavírus. Ela
indubitavelmente colocou o SUS e seus agentes em posição de destaque e deixou
claro que o sistema não funciona não porque não é bom, mas porque o orçamento
da União não contempla os recursos necessários para o seu custeio.
Além disso, a pandemia mostrou o que o povo já sabia, mas
era escondido por interesses dispostos a levar vantagem em cima de um tema
delicado, como é o atendimento à saúde: os planos de saúde privados funcionam.
Eles podem ser melhorados? Podem. Podem ser mais transparentes? Também. Mas se olharmos seu desenvolvimento ao longo do tempo veremos que isso vem acontecendo não é de hoje.