A ofensiva da GP Investments na área de seguros
Comprada por R$ 160 milhões no ano passado, a Argo Seguros passa a se chamar Akad e foca em seguros para PMEs com uso de tecnologia
NeoFeed - 24 de Junho de 2022No ano passado, a GP Investments olhou para o setor de seguro e achou que havia espaço para comprar uma insurtech e acelerá-la. A lógica era simples: o segmento ainda usava pouca tecnologia e não haviam surgido startups inovadoras capazes de enfrentar os grandes players da área, como tinha acontecido no setor bancário ou de meios de pagamento.
“Olhamos muitas empresas boas, mas que não tinham escala”,
afirma Danilo Gamboa, que na época estava na GP. “Foi então que decidimos
fundar uma.” Mas, antes disso acontecer, a gestora de private equity conseguiu
um atalho para seus planos e comprou a carteira da filial brasileira da Argo,
uma seguradora americana listada na Bolsa de Nova York (Nyse), presente em mais
de 100 países, e que foi colocada à venda. Em outubro do ano passado, pagou R$
160 milhões pela empresa.
Agora, a Argo está dando lugar para a Akad Seguros, nova
marca da GP para disputar o mercado de seguros. O objetivo é faturar R$ 700
milhões neste ano, quase o dobro do ano passado, e focar em pequenas e médias
empresas. O diferencial será o uso de tecnologia para oferecer os seus serviços
a uma base de 12 mil corretores com quem a seguradora já tinha relacionamento –
a meta é dobrar esse número em 2022.
“O setor de seguros é muito tradicional e com pouca
inovação”, diz, com exclusividade ao NeoFeed, Gamboa, que desde fevereiro deste
ano, quando a compra foi aprovada pelas autoridades reguladoras, passou a ser o
CEO da seguradora. “Vamos investir pesado em tecnologia para desenvolver novos
produtos.”
Da antiga empresa, sobraram apenas como legado toda a
questão regulatória e uma carteira de clientes focada em executivos e
transportadoras – a Argo era uma das cinco maiores seguradoras de transportes e
responsabilidade civil profissional, conhecidos como D&O e E&O no
mercado.
Sob a gestão da GP, a Akad está fazendo um investimento que
supera o valor pago pelo ativo no ano passado – a cifra exata, no entanto, não
é revelada. O alvo preferencial serão pequenas e médias empresas que, na visão
de Gamboa, são muito mal atendidas pelos players atuais.
Em suas estimativas, apenas 20% delas contratam seguros, um
mercado que movimentou R$ 306,4 bilhões em 2021, de acordo com dados da
Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). “É um mercado com um potencial
gigantesco para crescemos”, diz Gamboa, referindo às PMEs.
O plano é também aumentar o leque de produtos para além das
ofertas tradicionais do setor. Um seguro de cibersegurança, que combina uma
varredura para identificação de vulnerabilidades, um software de proteção e uma
apólice de seguros para cobrir eventuais sinistros, irá para a prateleira da
Akad. A seguradora vai oferecer também um seguro garantia para permitir que
empresas recorram de decisões judiciais sem precisar para isto usar de caixa
próprio para fazer um depósito judicial.
Outro pilar será a digitalização de todo o processo da
seguradora, considerado ainda muito analógico: desde a aquisição do seguro,
passando relação com os corretores e chegando ao resgate dos prêmios em caso de
um sinistro. A Akad planeja também usar tecnologias de inteligência artificial
para oferecer seguros individualizados com o perfil de risco de cada empresa.
Para isso, o time de tecnologia da Akad passou de cinco
pessoas, antes da aquisição da GP, para 50, o que representa um terço dos
funcionários. Além disso, a seguradora trouxe a bordo da nova empresa Marcelo
Sales, empreendedor com vasta experiência para ser o Chief Innovation Office da
seguradora. Ele é um dos fundadores da Movile, dona do iFood, da aceleradora
carioca 21212 e da Cyberlabs, que trabalha com inteligência artificial e se
uniu a empresa de segurança PSafe no começo de 2021.
“De fevereiro até agora, acabamos com os e-mails e planilhas
Excel e digitalizamos todos os processos internos”, diz Sales, que é duplamente
investidor da Akad via a Cyberlabs e na pessoa física – um grupo de
investidores, cujos nomes não são revelados, participou da aquisição da Argo
junto com a GP. “Criamos também um data lake com um histórico de 10 anos da
Argo.”
Com base nesse histórico – a Argo tinha 10 anos de atuação
no Brasil – a Akad acredita que vai conseguir precificar os seguros de forma
mais individualizada para as empresas, bem como predizer o risco das apólices.
Todos os produtos serão também disponibilizados através de APIs públicas que
permitirão a integração com as plataformas de qualquer cliente.
O nome Akad é uma referência aos acadianos, um dos povos da
antiguidade que habitaram a região da Mesopotâmia. A língua acadiana é o idioma
mais antigo do qual se tem registros escritos. Mas há também um componente nerd
na nova marca. Akad por ser a abreviação de also known as digital (também
conhecido como digital) em uma referência a identidade tecnológica que a
empresa quer passar ao mercado.
Mercado de seguros dominado por pesos pesados
A briga da GP por um pedaço do mercado de seguros se dará em
ambiente marcado por competidores tradicionais e pesos pesados. De acordo com o
ranking da Sincor-SP, as cinco maiores seguradoras do Brasil, foram, nesta
ordem, Bradesco, SulAmérica, Porto Seguro, Banco do Brasil e Zurich Santander,
em 2021. Somadas, as cincos detêm uma fatia de 52% de todo o mercado.
As insurtechs, seguradoras que um componente tecnológico, a
exemplo do que representaram as fintechs no setor bancário, ainda estão dando
os primeiros passos e não são ainda representativas no mercado. São os casos de
empresas como Betterfly, companhia chilena que se tornou um unicórnio em
fevereiro deste ano, após captar Glade Brook Capital com participação de novos
investidores, como Greycroft e Lightrock. QED Investors e DST Global.
Apesar desse porte bilionário, a Betterfly recorreu a um
nome tradicional do setor de seguros para entrar no mercado brasileiro: a Icatu
Seguros, a seguradora da família Almeida Braga, que atua em vida, previdência,
capitalização e investimentos. A insurtech fez parceria com a companhia para
oferecer seu produto no País.
Outros nomes com apelo tecnológico têm um porte menor e
estão dando os primeiros passos para tentar ganhar um lugar ao sol no mercado
de seguros. São os casos da Zipia, que conecta corretores de seguros com
consumidores através de marketing digital, e que levantou R$ 6,3 milhões com a
Astella Investimentos.
A Justos, que atraiu à sua base de acionistas nomes como
David Vélez, do Nubank, Sergio Furio, da Creditas, e Patrick Sigrist, do iFood,
aposta em um modelo de precificação das apólices baseado no comportamento do
motorista ao volante, mas está dando ainda os primeiros passos.
O desafio da Akad, sob o comando da GP, é usar de forma
intensiva tecnologia, mas, ao mesmo tempo, ter escala para competir com os
pesos pesados do mercado. Não será uma missão fácil.