Tecnologia é essencial para avaliar riscos e chegar a precificação correta
Os dados vão remodelar o futuro da indústria global de seguros. Especialistas e executivos presentes no InsureTech Connect (ITC), em Las Vegas, maior evento do mundo de seguros e inovação, têm enfatizado de modo quase unânime a importância de se obter, padronizar e analisar informações, como forma de se preparar para enfrentar um cenário de escalada de riscos em todo o globo.
O CEO da resseguradora global Everest Re, Juan Andrade,
afirmou que “o mundo está em risco como jamais esteve”. Para o executivo,
“temos mais catástrofes e um grande número de riscos emergentes, como os
ciberataques, eventos climáticos, inflação, questões sociais e guerra”. Entre
os grandes riscos emergentes hoje estão ciberataques, eventos climáticos,
inflação e questões sociais Andrade citou o risco cibernético como um dos que
mais crescem no mundo hoje.
“Rumamos para ter algo em torno de US$ 20 bilhões [em perdas
anuais com ataques cibernéticos]”, apontou. “Temos observado [nos EUA] um
aumento do setor de seguros em termos de percentual do PIB e provavelmente
vamos continuar a subir.” O CEO da Everest Re também mencionou o cenário de
riscos relacionados às mudanças climáticas. “As estatísticas mudaram
dramaticamente. Na última década, os riscos ligados ao clima aumentaram 75
vezes. Isso é assustador.”
Na visão do sócio sênior da consultoria McKinsey, Kia
Javanmardian, em um cenário de riscos em elevação, a demanda por proteção e a
necessidade de a indústria de seguros evoluir e inovar nunca foi tão necessária
para cobrir novos riscos. O especialista diz que as respostas para lidar com um
momento de transformações tão drásticas vêm dos dados. “A chave é como vamos
usar os dados emergentes, avaliar os riscos, conseguir uma precificação correta
e nos preparar para os eventos.”
O executivo-chefe de estratégia da provedora de soluções
tecnológicas para indústria financeira Earnix, Dror Pockard, apontou a
transformação digital como essencial para a indústria de seguros enfrentar um
cenário que ele vê como “tempestade perfeita” para o setor. “O segundo
trimestre deste ano foi o pior da indústria [de seguros global] em muitos anos.
Muitas coisas estão acontecendo, como inflação elevada em todo o mundo, alta de
custos das companhias, o que impacta na precificação de seguros, mudanças
climáticas - estamos vendo impactos como inundações e eventos extremos.
Além disso, temos um mercado em que os consumidores estão
elevando as expectativas sobre as companhias, sem contar a pressão de
competidores e restrições regulatórias, além da mudança da dinâmica no mercado
de trabalho.”
Esses fatores estão redesenhando várias indústrias no mundo
e a de seguros não é exceção. De acordo com o CSO da Earnix, “não há outra
maneira de enfrentar essa tempestade perfeita senão mudar tanto a forma como as
empresas analisam dados e riscos, quanto a velocidade com que conseguem agir”.
Pockard disse que ferramentas como inteligência artificial e machine learning,
ou aprendizado de máquina, podem trazer soluções que possibilitem às
seguradoras criar a habilidade de agir na velocidade certa, como acelerar o
tempo que a empresa leva para trazer um novo produto ao mercado, mudar
parâmetros de uma proteção existente ou ajustar preços.
Diante dessa necessidade de transformação, as grandes
seguradoras precisam deixar de ter uma estratégia voltada ao produto para se
tornar uma organização que entenda o consumidor e busque atender suas
necessidade, afirmou o CEO da seguradora Farmers, Jeffrey Dailey. “Na
perspectiva da companhia, somos muito orientados ao produto. Mas, na visão da
equipe [de inovação], não importa tanto o produto que vendemos. A abordagem é
entender a demografia dos consumidores e o que os clientes querem que seja
feito.”
O CEO da Farmers citou iniciativas como a criação de uma
equipe que faz resgates em catástrofes. “Enviamos um exército de pessoas da
companhia para lidar com furacões ou incêndios florestais.”
Para o presidente e executivo-chefe de operações (COO) da
Verisk, Mark V. Anquilare, o momento é de aceleração da inovação. “As empresas
precisam ser capazes de tomar risco e ser criativas, além de alimentar uma
cultura de inovação.” Conforme Anquilare, a tecnologia tem ajudado seguradoras
e entender melhor os riscos, a precificação e as possibilidades de fraudes.
Essa é uma percepção que se tornou ainda mais forte com a digitalização forçada
pela qual a indústria passou globalmente. “Todo mundo [no setor] se tornou uma
versão digital melhor de si mesmo após a pandemia. Mas é preciso acelerar e
evoluir a maneira como usamos inteligência artificial, aprendizado de máquina,
e promover um engajamento digital [as organizações].”
Um dos desafios de uma grande seguradora em relação à
inovação é deixar a zona de conforto do negócio. “É realmente difícil para uma
companhia grande investir em algo que será pequeno por algum tempo”, disse
Dailey, da Farmers. “Mas precisamos ter uma missão e ser devotados a ela. No nosso
caso, tem sido entender o consumidor e suas necessidades”
O fator que mais atrasa as grandes seguradoras no processo
de transformação tecnológica é a infraestrutura antiga de TI, afirma Pockard,
da Earnix. Esse foi o principal motivo apontado em uma pesquisa com altos
executivos de todo o mundo realizada pela companhia. “O principal fator, de
longe, foi a ineficiência da estrutura de TI, com muitos sistemas legados e
desorganização de dados”, disse.
O líder de experiência digital de seguros na AWS, Shaugn
McClueskey, disse que o uso de dados, inteligência artificial e aprendizado de
máquina pode alavancar os negócios. “É possível ter crescimento da
rentabilidade dos prêmios, com processos automatizados, ter subscrição
personalizada e transferir riscos, ou seja, evitar que um risco se torne um
sinistro”, listou.