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Queda na renda continua a afetar captação na previdência

Até setembro, a captação líquida dos fundos VGBL e PGBL está positiva, mas estagnada em relação ao ano passado

Valor Econômico - 29 de Novembro de 2022

O setor de previdência aberta ainda está lidando com as consequências da pandemia. Por um lado, a emergência sanitária deixou uma herança positiva: parte da população parece ter compreendido a importância de pensar no longo prazo e de poupar recursos para a complementação da renda na aposentadoria.

Por outro, o saldo foi negativo: a queda na renda real da população ainda se faz sentir e a captação líquida dos VGBLs e PGBLs não voltou aos níveis anteriores à pandemia. Neste ano, até setembro, a captação líquida desses fundos está positiva em R$ 24,5 bilhões, estagnada em relação ao mesmo período do ano passado - os dados são da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi).

Embora a arrecadação de prêmios e contribuições tenha subido 15%, os resgates aumentaram 19%. Ângela Assis, vice-presidente da FenaPrevi, considera que a tendência é de queda nos resgates e aumento dos aportes nos próximos meses, até por conta da sazonalidade, com pagamento do 13º salário e o planejamento tributário (o contribuinte pode abater até 12% das contribuições feitas ao PGBL da base de cálculo da Declaração Anual de Ajuste do Imposto de Renda).

Em 2019, o setor teve captação líquida de R$ 55,5 bilhões e em 2020, os aportes superaram os resgates em R$ 41,8 bilhões. Assis crê que a atuação do setor de previdência e seguros durante a emergência sanitária foi essencial para a construção da confiança da população. Dada a situação de dificuldade financeira enfrentada por muitas pessoas, as seguradoras suspenderam temporariamente a regra de carência dos resgates - pelas quais o investidor só pode sacar recursos a cada 60 dias. “Os pedidos de resgates foram efetivados por todas as seguradoras.

Além disso, elas aceleraram a digitalização para pagar de forma mais ágil os sinistros”, diz a executiva. “Quem pensou no futuro teve de onde retirar recursos para passar pelos momentos difíceis.” “A covid levou as pessoas a pensar no futuro e a repensar a vida, e a previdência é um bom caminho para cuidar do futuro financeiro”, afirma William Eid Junior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV/SP.

Para ele, a previdência aberta é uma opção atraente para planejar o longo prazo pois, além das taxas de administração competitivas, ela conta com incentivos fiscais que fazem o bolo de recursos do investidor crescer, como a possibilidade de abater as contribuições feitas para os PGBLs da base de cálculo do imposto e a ausência do come-cotas, o imposto semestral que incide sobre fundos de investimento comuns.

Tiago Calçada, líder de previdência da Mercer, diz que outro fator contribuiu para o mercado: “O acesso aos produtos se dá de forma fácil e digital, e os fundos de previdência são competitivos, com taxas de administração e portfólios semelhantes aos fundos de investimento comuns”. Ele nota um aumento da procura por planos corporativos: “Temos sido procurados por pequenas e médias empresas preocupadas em oferecer a previdência para seus funcionários, como forma de retê-los. Esse benefício se tornou importante”.

Atualmente, cerca 13,5 milhões de pessoas contam com planos de previdência aberta no país. O número de brasileiros com acesso à previdência complementar sobe para cerca de 16 milhões se forem somados os participantes de fundos de pensão - uma cobertura previdenciária ainda baixa, considera Calçada. Ângela Assis aponta o desafio que a sociedade brasileira tem pela frente: as pessoas acima de 60 anos, que hoje são cerca de 15% da população, devem somar 31% em 2060. “Como a maioria não está preparada para a aposentadoria, terá que trabalhar mais tempo.”