Novo PAC promete impactos positivos para o mercado
Potencial de crescimento a partir das obras do Novo PAC anima o setor de seguros, que prevê arrecadação de R$ 350 bilhões neste ano
Valor Econômico - 31 de Outubro de 2023Otimista com o cenário de lançamento dos programas federais
de neoindustrialização e do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento),
as seguradoras estimam poder atingir 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em
arrecadação até 2030. Hoje, o setor representa cerca de 4%, sem contar
previdência e capitalização. O cálculo tem base nos números oficiais, que
preveem R$ 1,7 trilhão em investimento nas obras do Novo PAC, o que tem
potencial para impactar diversos ramos, como o seguro garantia das obras, riscos
de engenharia e residencial.
Atingido esse patamar, o percentual colocaria o Brasil mais
próximo a países como Reino Unido, onde o seguro representa 10,5% do PIB, EUA,
11,6%, África do Sul, 11,3%, e Hong Kong, 19%, conforme dados da
Superintendência Privada de Seguros (Susep) “O Novo PAC tem potencial de trazer
uma movimentação positiva de aproximadamente meio trilhão de reais somente para
o seguro garantia”, afirma Alessandro Serafin Octaviani, presidente da Susep.
Isso na hipótese de que todas as obras do PAC sejam de
vulto, conforme a Lei 14.133, que permite que a administração pública exija a
prestação de garantia no limite máximo de 30% do valor total das obras. Mas os
percentuais podem ser 5% a 10%, em caso de obras menores. “O percentual máximo
de 30% inclui, ainda, a cláusula de retomada, que prevê a obrigação da
seguradora, em caso de inadimplência pelo contratado, assumir a execução e
concluir o objeto do contrato”, observa Octaviani.
A Susep mantém quatro grupos de trabalho para lançar
produtos e adaptar outros às demandas da sociedade digital. Um deles é o seguro
garantia para infraestruturas críticas digitais. “Os investidores e
empreendedores que fazem as infraestruturas digitais correm riscos.”
Animada com as obras do PAC, a Confederação Nacional de
Seguros (CNSeg) faz, no entanto, algumas ponderações. “Antes havia exigência de
até 10% de garantia do construtor para o governo. Hoje é de até 30%, o que vai
elevar o seguro garantia nessas obras”, diz Dyogo Oliveira, presidente da
CNSeg.
A entidade informa que o setor de seguros vem crescendo
desde 2021 com consistência e, em alguns ramos, com força maior. De janeiro a
julho, considerando os ramos previdência e capitalização, arrecadou R$ 217,17
bilhões, alta de 8,63% frente a igual período de 2022, segundo dados da CNSeg.
Sem previdência e capitalização, o resultado até agosto foi de R$ 123,04
bilhões, alta de 10,85%, conforme levantamento Susep.
Praticamente todos os segmentos cresceram. Auto avançou
16,5%, patrimonial, 16,3%, responsabilidade, 11,3%, e rural 9,8%. “Isso nos
leva a projetar arrecadação de R$ 350 bilhões este ano, 10% superior a 2022”,
diz Oliveira. O executivo conta que o setor rural deve receber um estímulo
extra do governo federal, que está acenando com mais R$ 500 milhões de
subvenção para o produtor este ano. “Isso reflete o momento de dinamismo e
inovação e muitas empresas novas entrando no setor. A tendência é de digitalização
e diversificação”, conta Oliveira. Ele diz que, para evoluir, o setor aposta em
inteligência artificial (IA) e big data, que tem ajudado na precificação do
risco.
Além disso, novos produtos adaptados às mudanças climáticas
estão no cenário. A Bradesco Seguros, maior seguradora do país, adotou este ano
um novo modelo de negócios que dá mais autonomia para as áreas distintas - vida
e previdência, saúde, automóveis, ramos elementares e capitalização. “Retiramos
da área comercial o trabalho burocrático. E dividimos a área comercial para
deixar parte voltada à rede e atendimento dos clientes do Bradesco e a outra
para o mercado em geral”, afirma Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros.
Segundo Gontijo, o resultado já pôde ser aferido no primeiro
semestre, quando a companhia registrou lucro líquido de R$ 4,2 bilhões, alta d
21,7% em relação ao mesmo período de 2022. O faturamento subiu 10,3%, para R$
50,5 bilhões. “O grupo pretende chegar aos R$ 100 bilhões em 2023, o que o
tornaria umas das 10 maiores empresas do Brasil”, afirma Gontijo. Segundo o
executivo, o grupo está investindo R 1 bilhão este ano em tecnologia e inovação
digital para facilitar a vida do corretor e democratizar o acesso aos seguros.
A Tokio Marine também aposta em tecnologia para ampliar o
alcance de seus negócios. Com atuação múltipla no setor, investe em
digitalização de processos e maior eficiência operacional, além do lançamento
de produtos e serviços. “As redes sociais já são realidade e logo, além do uso
de realidade virtual e internet das coisas (IoT), para apoiar as vendas e
processos operacionais de pós-venda, uma das tendências é a facilitação do
processo de contratação, com mais agilidade, menos burocracia e precificações mais
precisas”, afirma José Adalberto Ferrara, presidente da Tokio Marine
Seguradora. “A Tokio Marine foi a primeira seguradora do país a utilizar um
modelo de IA na avaliação e orçamentação de sinistros no setor de automóvel”,
diz Ferrara. O ramo auto é um dos mais representativos da empresa.
No primeiro semestre, manteve o segundo lugar no ranking,
com crescimento em prêmios de 29,4% (sem DPVAT e sem garantia estendida auto) e
R$ 3,61 bilhões em prêmios emitidos. Animada com o projeto de
neoindustrialização do país, a Allianz acredita que o governo federal está
posicionando a Susep com perspectiva mais moderna e que isso deve impactar os
negócios de seguro de forma positiva. “As empresas tendem a investir mais e
terão mais bens que precisarão de cobertura de incêndio, vendaval, maquinário,
entre outros”, observa Eduard Folch, presidente da Allianz Seguros, que teve R$
5,7 bilhões em prêmios de janeiro a agosto.
Para expandir suas operações no segmento corporativo, que
inclui grandes riscos, a empresa lançou em setembro a marca Allianz Commercial
em toda a América Latina, que contempla o que chama de midcorp (seguros para
pequenas e médias empresas, transportes e rural). O objetivo é atender os
clientes de seguros comerciais com uma abordagem unificada. “O grupo decidiu
trazer esta marca ao Brasil atrelado a este crescimento industrial e aos
seguros corporativos e de responsabilidade. Seguro corporativo deve entrar
forte no radar da Allianz porque temos muita expertise nesses projetos no
mundo.”
Com foco em auto e residencial, a HDI defende que o futuro
do negócio está na diversificação de produtos e serviços como forma de gerar
mais oportunidades para os corretores, fidelização de consumidores e aumento da
base de clientes. Para avançar nesta estratégia fez duas aquisições entre o
final de 2022 e o primeiro semestre deste ano, incorporando os ativos de duas
concorrentes, a Sompo Consumer e a operação da Liberty Seguros na América
Latina.
“Este é um dos países em que mais estamos investindo. Não
descartamos uma nova aquisição para avançar, mas também queremos cres de forma
orgânica”, conta Eduardo Dal Ri, CEO da HDI Seguros.
O executivo diz que o desafio agora é integrar as operações.
“Em 2024 vamos criar uma marca nova para substituir a Liberty. E com a
aquisição da Sompo Consumer entraremos mais nos ramos de auto, residên
empresarial PME, vida e condomínio”, diz Dal Ri.