Setor atinge R$ 1,23 trilhão em ativos no ano passado
Em um ano no qual o PIB brasileiro recuou 4,1%, a indústria de seguros conseguiu se manter no território positivo
Valor Econômico - 29 de Março de 2021O Valor Econômico informa que, em um ano no qual o PIB brasileiro recuou 4,1%, a indústria de seguros conseguiu se manter no território positivo. Em 2020, as receitas totais das empresas do setor registraram avanço de 0,6%. O dado faz parte do primeiro relatório financeiro anual que será lançado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). Os números mostram, no entanto, um recuo de 33% do lucro líquido agregado das companhias de seguros, resseguros, previdência complementar aberta e capitalização, impactado, principalmente, pela queda no resultado financeiro em um ambiente de juros nas mínimas históricas.
As receitas totais do setor alcançaram R$ 274 bilhões em
2020, um leve crescimento em relação a 2019, quando o faturamento foi de R$ 273
bilhões. Já o lucro líquido atingiu R$ 17,52 bilhões ante R$ 26,22 bilhões um
ano antes. O relatório destaca que o resultado operacional das seguradoras
permaneceu praticamente estável em 2020 em relação a 2019, mas o financeiro
registrou queda significativa.
Segundo os dados da Susep, a participação percentual do
resultado técnico, ou seja, da atividade operacional das empresas, em relação
ao faturamento total saiu de 32% em 2019 para 31% em 2020. No caso das receitas
financeiras, houve recuo de 10% para 7% de um ano para outro. A queda do lucro
afetou a rentabilidade geral das seguradoras. O retorno sobre patrimônio
líquido (ROE) agregado caiu para 17,4% em 2020 ante 26% no período anterior.
As maiores seguradoras, que fazem parte do grupo S1,
registraram ROE de 22,6%, enquanto as do segmento S2 tiveram retorno de 11,7% e
as menores, do conjunto S3 e S4, ficaram na faixa de um dígito a 5,6%. Os
ativos garantidores do setor cresceram 6%. Segundo a Susep, são aqueles que
fazem parte das carteiras de investimento próprias das companhias e dos fundos
previdenciários, como títulos públicos, renda variável e imóveis. O volume
atingiu R$ 1,23 trilhão em 2020, ante R$ 1,16 trilhão ao fim de 2019.
As provisões técnicas, também chamadas de reservas técnicas
- que representam o quanto de recursos as seguradoras precisam manter para
fazer frente às obrigações dos contratos de seguros, resseguros, previdência e
capitalização, tais como indenizações, benefícios, aposentadorias, resgates e
sorteios -, subiram para R$ 1,202 trilhão, alta de 8%. Apenas a parcela das
seguradoras e resseguradoras representa 11,9%, com o montante de R$ 143
bilhões. A maior parte das provisões diz respeito aos planos de acumulação.
No segmento de previdência privada aberta, as reservas
encerraram 2020 em 13 dígitos, a R$ 1,027 trilhão, com crescimento nominal de
7%. O VGBL puxou a alta, com avanço de R$ 52 bilhões nas reservas para um total
de R$ 797 bilhões. O acréscimo representa aumento de 7%. O PGBL teve avanço de
4,8% para R$ 173 bilhões em provisões, enquanto os planos tradicionais,
produtos antigos de previdência aberta comercializados nos anos 1990, somaram
R$ 56 bilhões, ou alta de 16,6%.
O levantamento da Susep comprova ainda que a pandemia teve
impacto diverso entre os vários ramos de seguros. A rentabilidade do segmento
auto, por exemplo, medida pelo resultado técnico, cresceu de 19% para 25%, um
aumento de R$ 1,98 bilhão, enquanto o seguro de pessoas, caiu de 33% para 28%,
uma queda de R$ 1,62 bilhão.
De acordo com a análise da autarquia, “os movimentos possuem
correlação com a sinistralidade observada nos dois segmentos, com queda no
seguro auto e aumento no seguro de pessoas”. De fato, a relação entre
indenizações e prêmios ganhos do segmento auto, que foi de 60% em 2019, caiu
para 54% em 2020.
Já os seguros de pessoas, apesar do crescimento nominal de
receitas de 5%, apresentaram aumento na sinistralidade, de 29% para 34%.
29/03/2021
A superintendente da Susep, Solange Vieira, avalia como
positivos os números do setor que obteve leve crescimento mesmo em um ano de
crise. “O setor reduziu lucro, ajustou resultados, mas continuou com tendência
de crescimento”, diz. A dirigente ressalta que o ano passado foi um momento de
diminuição no ritmo de crescimento de receitas, picos de sinistralidade em
alguns ramos e aumento nos resgates dos produtos de acumulação. “O que a gente
trabalhou mais ao longo do ano passado foi preparar as bases do setor para um
grande crescimento quando a economia retomar”, afirma. “Vejo agora a indústria
se reorganizando e diria que fizemos da crise uma oportunidade ao avançar na
adoção de tecnologia.”
A Susep manteve intensa atividade regulatória em 2020 com o
objetivo de criar um novo marco para a indústria de seguros. No ano passado, a
autarquia criou a segmentação regulatória do setor, que classifica as
companhias de acordo com o tamanho e complexidades das operações, em grupos que
vão do S1, que reúne os maiores conglomerados, até S4, de empresas menores. A
norma implementou a aplicação proporcional da regulamentação prudencial e,
assim, evitar que o custo de observância seja muito pesado para negócios de
pequeno porte ou iniciantes. O ano passado também foi marcado pela
simplificação regulatória e viabilização de produtos como seguros intermitentes
e paramétricos.
Em 2020, houve ainda normatização para possibilitar que
seguradoras e resseguradoras securitizem carteiras, ou seja, consigam
transferir risco ao mercado de capitais por meio dos Insurance Linked Securities
(ILS), e a flexibilização dos contratos de grandes riscos que trouxe maior
capacidade de cobertura nos projetos de infraestrutura.
“A partir da flexibilização e simplificação das regras, a
tecnologia vai impulsionar a inovação e concorrência no setor”, avalia Solange.
“A gente já vê os maiores crescimentos justamente nas empresas que lançaram
novos produtos como o seguro intermitente”, afirma a superintendente da Susep.
“No ano passado, permitimos, por exemplo, o lançamento do seguro paramétrico,
que estabelece parâmetros para situações como chuvas, seca e outras variáveis e
faz monitoramento remoto, com uso de drones e outras ferramentas”, acrescenta.