Seguro rural será decisivo para o agronegócio em 2024
Com El Niño, o setor precisará de suportes robustos diante de sérios riscos provocados pelas condições climáticas adversas
Globo Rural - 28 de Novembro de 2023O agronegócio funciona como uma indústria a céu aberto. Uma sequência de rotinas se segue, do preparo do solo à colheita, e, em cada uma dessas etapas, uma série de riscos se apresenta. Neste momento, com as secas na Região Norte e as chuvas excessivas no Sul, os problemas relacionados ao clima se tornam muito evidentes. A presença do fenômeno climático El Niño, evidenciada ao longo dos últimos meses, ajuda a explicar os fenômenos atuais e apresenta um cenário de instabilidade para 2024.
“Temos observado chuvas e secas, além de geadas de amplo
alcance. Numa situação de perda de colheita, os produtores perdem duas safras,
em geral, até voltar à ativa. Precisam recorrer a refinanciamentos bancários ou
acabam por vender parte do patrimônio”, explica Joaquim Francisco Cesar Neto,
presidente da Comissão de Seguro Rural da Federação Nacional de Seguros Gerais
(Fenseg).
Um caminho tradicional para apoiar os produtores nestes
casos é o seguro rural, como é conhecido o Programa de Subvenção ao Prêmio do
Seguro Rural (PSR). Trata-se de um subsídio para que o segmento de seguros
consiga oferecer as melhores condições para a maior quantidade possível de
produtores do setor agropecuário. “O seguro rural é extremamente necessário,
ainda mais num cenário em que muitos produtores não conseguiram plantar a safra
verão em decorrência da seca ou a plantaram e a perderam para as chuvas”,
avalia o deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR).
Gestão de risco
Em outras palavras, quanto maior o subsídio, maior a
proteção. E é por isso que, desde os primeiros meses de 2023, a Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) solicita o aumento do valor
disponibilizado para o setor, que se vê diante da perspectiva de registrar uma
safra recorde em produção desde que o esforço não seja comprometido pelas
dificuldades provocadas por problemas climáticos.
“O país corre o risco de ter problemas na produção de soja e
de milho safrinha, tudo devido ao atraso no plantio da oleaginosa, que irá
empurrar as janelas de semeadura. Com as alterações na temperatura média e nos
índices de precipitações, as lavouras são as principais prejudicadas”, detalha
José Mario Schreiner, vice-presidente da CNA.
Ainda em abril, a CNA propôs a aprovação de um adicional de
R$ 1 bilhão ao PSR, a ser incluída no Plano Agrícola e Pecuário 2023/2024. O
setor solicitava que o mínimo necessário para apoiar os produtores rurais neste
momento fosse R$ 2 bilhões e recomendava o adicional para alcançar a alocação
de R$ 3 bilhões na Lei Orçamentária Anual de 2024. Nada disso aconteceu.
A senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura,
conseguiu aprovar na LDO de 2024 uma emenda para garantir rubrica orçamentária
para o seguro rural, dentro do Fundo de Catástrofe. “O que estamos vendo
acontecer hoje no país é uma sequência de catástrofes: inundação no Sul, seca
no Norte. O Fundo de Catástrofe vai ajudar o seguro rural a ter recursos. É o
que esperamos”, diz a senadora.
Impacto para a sociedade
“Se o seguro não é acessado a tempo, o produtor precisa
buscar alternativas. E tem sido recorrente, nos últimos anos, que a dificuldade
em definir os valores dos subsídios em tempo hábil comprometa o acesso a este
serviço tão importante”, aponta Neto. Como resultado, o total de área protegida
por planos de seguros tem diminuído drasticamente nos últimos anos.
“Desde 2021 o acesso ao seguro rural vem caindo
enormemente”, declara Souza. “O que se colocou no Orçamento para 2023 era a
metade do que nós tínhamos pleiteado como necessário para uma cobertura mínima.
No entanto, além de colocar metade, o governo remanejou boa parte do seguro
rural para atender a outras situações. E agora vem uma proposta para o
Orçamento de 2024 no mesmo tamanho de 2023”, diz.
O impacto negativo deste fenômeno se estende para além do
campo, como aponta Schreiner. “As consequências reais da falta de investimento
na proteção dos produtores contra adversidades climáticas incluem colheitas
comprometidas e fontes de renda ameaçadas. Além disso, a falta de incentivos à
gestão de riscos traz implicações mais amplas, incluindo diminuição da
segurança alimentar, instabilidade no setor agropecuário, desincentivo ao
investimento em melhorias na produção e em tecnologia e desafios para o setor
financeiro”, acrescenta o vice-presidente da CNA.
O caminho ideal, destaca Neto, seria definir um percentual
fixo do Plano Safra para o subsídio aos seguros. “Os valores da subvenção não
têm atendido à demanda do setor, mas o recurso não chegar a tempo é ainda mais
grave. A Fenseg pleiteia que o ISR seja enquadrado como operação oficial de
crédito, o que proporcionaria maior segurança para as seguradoras e os
produtores.”
Curso de capacitação
Enquanto segue em busca de soluções para este problema
estrutural grave, a CNA trabalha também para apoiar os produtores na busca pelo
serviço. “Além da articulação para promover a aprovação de orçamento
suficiente, a CNA lançou a segunda turma da Capacitação em Seguros Rurais, que
em 2023 teve uma grande procura por parte dos produtores”, detalha o
vice-presidente da entidade. “O objetivo da capacitação é disseminar o uso e a
cultura do seguro agrícola no país, com informações que facilitem a adoção prática
e os procedimentos de utilização dos instrumentos de gestão de risco na
produção.”
Cenário adverso: O acesso ao seguro para os produtores
vem caindo
R$ 1 bilhão adicional em seguro deveria ser adicionado ao
Plano Agrícola e Pecuário 2023/2024, na proposta da CNA. Dessa forma, seriam
alocados R$ 3 bilhões
Apesar da demanda do setor, o orçamento aprovado para o ano
foi de apenas R$ 1,06 bilhão
Os recursos disponibilizados para o seguro deveriam ser
robustos, já que o país enfrenta seca no Norte e chuvas em excesso no Sul
Hectares cobertos pelo seguro rural:
2021: 14 milhões
2022: 7,12 milhões
2023: 6,24 milhões*
*Queda de 55,4% em relação a 2021