Mercado de previdência privada vive ano 'excepcional'
Setor comemora alta de 64% nas captações e espera que novas regras deem estímulo adicional ao mercado, mas acende alerta para inflação
Valor Econômico - 02 de Dezembro de 2024O mercado de previdência complementar aberta teve um desempenho surpreendente em 2024. Apesar de uma leve desaceleração nos últimos meses do ano, grandes empresas como Brasilprev comemoraram resultados excepcionais. O ano ficou marcado pelo crescimento de 64% na captação líquida de janeiro a setembro, totalizando R$ 47,7 bilhões, o que fez a carteira total de investimentos superar R$ 1,53 trilhão. Esses números consolidam 2024 como um marco de recuperação, deixando para trás os anos mais fracos da pandemia.
“A excepcionalidade do ano se mantém não só na captação
líquida, mas também na consistência da captação bruta, enquanto os resgates
retornaram a níveis pré-pandêmicos. Estamos em um cenário de desemprego em
níveis historicamente baixos”, afirmou Edson Franco, presidente da Federação
Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). Ele também destacou o
aumento de 7% na renda das famílias, o que trouxe mais confiança para o
investimento em previdência, ampliando o alcance do produto às classes C e D. Desde
2021, foram 800 mil novos entrantes, alcançando um total de 11,2 milhões de
participantes.
A tecnologia desempenhou um papel crucial na expansão do
mercado. A Brasilprev, maior carteira do segmento, com R$ 428 bilhões, utilizou
inteligência analítica e modelos preditivos para gerar R$ 12 bilhões em
negócios nos primeiros dez meses do ano. Ângela Assis, presidente da empresa,
enfatizou que cerca de 700 mil clientes foram assessorados durante o período.
Apesar dos resultados acima da média, ela notou uma desaceleração na reta final
de 2024, atribuída à volatilidade nos investimentos.
Com a segunda maior reserva do mercado, o Bradesco acumulou
R$ 8,5 bilhões em captação líquida até novembro. No entanto, os últimos dois
meses devem fechar com números mais modestos devido à inflação e ao aumento das
taxas de juros. “O cenário é desafiador, mas a economia continua crescendo, e
esperamos uma expansão de 2,5% em 2025”, afirmou Estevão Scripilliti, diretor
do Bradesco Vida e Previdência. Ele também destacou que o novo marco
regulatório deve tornar os produtos de previdência mais acessíveis, incluindo
adesão automática em planos empresariais e novas opções de crédito com
garantias.
A forte competição no setor impulsiona investimentos em
assessoria financeira e inovação tecnológica. O BTG Pactual, por exemplo,
espera fechar o ano com R$ 7,5 bilhões em captação líquida, um crescimento de
19% em relação a 2022. Marcelo Flora, sócio do banco, destacou que o BTG possui
a menor taxa de saída entre as dez maiores instituições, reflexo do trabalho
voltado à retenção de clientes.
Outros grandes players também registraram avanços
expressivos. A XP, com mais de 200 fundos e R$ 80 bilhões sob gestão, alcançou
captação líquida positiva de R$ 3 bilhões, enquanto a SulAmérica viu suas
reservas crescerem de R$ 9,8 bilhões para R$ 12 bilhões até outubro. Já o Itaú,
líder em captação líquida, atingiu R$ 11,2 bilhões até outubro e projeta
encerrar o ano com R$ 20 bilhões líquidos.
O setor se prepara para 2025 com expectativas mistas. A
inflação alta preocupa, mas o crescimento econômico e a modernização
regulatória são vistos como oportunidades para manter o mercado aquecido.
Segundo Marcelo Malanga, CEO da Zurich, novas possibilidades, como rendas
programadas e multifundos, devem impulsionar ainda mais o segmento. Mesmo
diante de desafios, 2024 foi um ano excepcional, colocando o mercado de
previdência privada em destaque na economia brasileira.