Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
A HORA E A VEZ DA COMUNICAÇÃO
É verdade, até algumas décadas atrás, a linguagem empregada pela atividade era hermética. Quem não trabalhava com seguro não entendia 27 de Setembro de 2024Um dos maiores problemas para a divulgação do seguro de uma forma mais
consistente junto à sociedade brasileira é a dificuldade da compreensão do
assunto por grande parte da população. Ao contrário de um automóvel ou uma
geladeira, que o cidadão pega, sente e experimenta, o seguro é um pedaço de
papel, escrito com palavras difíceis, onde está explicitado o que cada parte
deve ou não deve fazer. É um contrato e, dado o nível de alfabetização de boa
parte dos brasileiros - não necessariamente apenas os mais pobres -, é um
contrato difícil de ser compreendido.
É verdade, até algumas décadas atrás, a linguagem empregada pela
atividade era hermética. Quem não trabalhava com seguro não entendia e quem
trabalhava muitas vezes ficava em dúvida, sem ter muita certeza do que queria
dizer e qual a diferença, por exemplo, entre “cláusula de rateio” e “cláusula
de rateio parcial”.
Com o passar dos anos e a massificação dos seguros, muito em função do
crescimento da carteira de seguro de veículos, a linguagem foi simplificada,
mas não na apólice, que seguiu sendo um documento incompreensível para grande
número de pessoas que se atrevia a ler o seu clausulado. A solução encontrada,
até porque não foi permitido que as simplificações fossem feitas diretamente
nas apólices, foi a edição de manuais de seguros dos diferentes ramos, que até
hoje são entregues para o segurado juntamente com a apólice.
Nos últimos anos, a redação das apólices passou a ser mais simples, mas
os conceitos envolvidos na operação de seguro ainda são relativamente
complexos, inclusive para pessoas com nível educacional elevado. Quer dizer,
nem tudo que está escrito é facilmente assimilado, o que cria uma barreira de difícil
transposição para o cidadão médio cruzar e ter mais familiaridade com as
apólices de seguros.
A ligação entre as seguradoras e seus consumidores é, em mais de 90% dos
contratos, feita pelos corretores de seguros. Uma categoria profissional
preparada e treinada para fazer a intermediação do negócio, defendendo o lado
do segurado. O corretor de seguros é quem explica para o segurado o que o seu
seguro garante e como ele funciona. Além disso, deve explicar que a melhor
forma do segurado se comunicar com a seguradora é através dele, corretor de
seguros.
Esse é o desenho tradicional da comercialização dos seguros e até hoje é
a forma mais comum das transações acontecerem. Mas, pelas suas tipicidades e
custos, esse sistema não consegue atingir com eficiência uma série de situações
em que, por uma razão ou por outra, a comercialização, para ser efetiva,
precisa ser mais simples, mais barata e mais direta.
Esta é a preocupação do mercado neste momento. Ganhar eficiência na
comercialização dos produtos, atingindo as camadas da população que atualmente
estão marginalizadas e com poucas chances de contratar os seguros que elas
necessitam.
É um caminho complexo e complicado, que passa pelo desenvolvimento de
produtos com garantias simples, linguagem acessível, preço viável e formas de
comercialização eficazes para a colocação dos produtos ao alcance das classes D
e E. Mas, acima de tudo, é fundamental que a comunicação do setor seja
constantemente aprimorada para se aproximar cada vez
mais das dores da população e oferecer produtos fáceis de serem assimilados e
que resolvam seus problemas.