Perda global com cibercrimes deve ser de US$ 6 tri em 2021
O Brasil foi alvo de mais de 3,2 bilhões de tentativas de ataque no 1º trimestre, o dobro do verificado no mesmo período de 2020
Valor Econômico - 26 de Agosto de 2021Os ataques cibernéticos a empresas como Lojas Renner, Cosan,
Braskem, Fleury e JBS, nos últimos meses, mostram que esse tipo de crime
encontrou uma brecha importante para agir durante a pandemia. O Brasil foi alvo
de mais de 3,2 bilhões de tentativas de ataque no primeiro trimestre, um volume
que dobrou em relação aos três primeiros meses de 2020, segundo a empresa de
segurança Fortinet. E a demanda por serviços de segurança também cresce.
As tentativas de ataque bem-sucedidas no mundo já
representaram perdas globais estimadas entre US$ 1 trilhão, em 2020, e U$ 6
trilhões este ano, informa a União Internacional das Telecomunicações. A
necessidade de um ciberespaço seguro tornou-se muito importante, diz a UIT,
diante da crescente dependência que pessoas e companhias têm da internet.
Instituições que já foram vítimas dos criminosos e as que temem ingressar nessa
estatística, buscam se armar, adquirindo mais serviços de segurança e
compartilhando informações.
O aumento na demanda por cibersegurança se traduz nos
resultados do setor. Em 2020, o mercado de segurança da informação faturou US$
156,2 bilhões no mundo, e deve alcançar US$ 352,2 bilhões em 2026, mostra um
levantamento da consultoria Mordor Intelligence. Na América Latina, o setor foi
avaliado em US$ 4,84 bilhões, no ano passado, e deve chegar a US$ 9,57 bilhões
em 2026.
O aumento da demanda por segurança cria oportunidades de
novos negócios. Cristiano Lincoln Mattos, diretor-presidente da Tempest
Security Intelligence, uma das principais empresas de cibersegurança
brasileiras, diz que o mercado local é muito fragmentado e o crescimento pode
ser feito tanto de forma orgânica, quanto com fusões e aquisições.
“De um lado temos a atuação das grandes empresas
multinacionais de tecnologia, que também trabalham com cibersegurança aqui e no
resto do mundo, como IBM, Accenture, Cisco, Dell, entre outras, que se
beneficiam do seu tamanho e marca para conseguir grandes contratos”, explica.
“Do outro, uma enorme quantidade de empresas pequenas, com faturamento entre R$
5 milhões a R$ 20 milhões, e nesse meio algumas grandes nacionais.”
Lincoln fala que a Tempest viu um crescimento entre 36% e
37% de 2019 para 2020 e de aproximadamente 40% de 2020 para 2021, com a forte
procura por serviços de cibersegurança. “A pandemia com certeza acelerou um
movimento de transformação no setor que já vinha acontecendo.”
Para Rafael Coutinho, gestor na multinacional de
cibersegurança Trend Micro, a procura por serviços aumentou no último ano,
diante da digitalização do ambiente de trabalho. A empresa japonesa viu o
faturamento na América Latina crescer 21,5% em um ano, a US$ 25,6 milhões, de
acordo com dados do segundo trimestre. O setor público é alvo de
cibercriminosos - o Superior Tribunal de Justiça (STJ)
foi atacado em novembro - e tem contratado mais serviços de
segurança, informa Coutinho. Um dos movimentos que Roberto Rebouças,
gerente-executivo da russa Kaspersky no Brasil, vê é a mudança de paradigma: as
empresas deixaram de ver cibersegurança como gasto e passaram a encarar como
investimento. “Mais do que isso, elas começaram a investir em soluções corretas
para dificultar a vida do criminoso.” Mesmo empresas que não oferecem serviços
contra “ransomware” (vírus que sequestra dados da vítima), viram uma demanda
tão forte que passaram a monitorar o tema.
Roberto Achar, diretor de cibersegurança da ClearSale, conta
que hoje os clientes dos serviços anti-fraude recebem um acompanhamento das
principais tendências e perigos do segmento. Os fornecedores são unânimes em
apontar que o segmento de cibersegurança deve continuar crescendo. “A
digitalização não vai parar, a regulamentação sobre o tema aqui no Brasil -
principalmente setorialmente - vai continuar a crescer para acompanhar o que
acontece lá fora, e a demanda econômica por ataques cibernéticos não vai
diminuir”, diz Lincoln, da Tempest.
O avanço de estratégias de ciberataques e códigos maliciosos
cada vez mais inteligentes exigem novas tecnologias de prevenção e detecção de
intrusos. Uma delas é a Detecção e Resposta Estendida (XDR, na sigla em
inglês), capaz de avaliar todo o fluxo de dados da rede de uma empresa atrás de
anomalias. “A ferramenta coleta um volume grande de dados e os relaciona usando
técnicas de aprendizado de máquina”, diz Ghassan Dreibi, diretor de
cibersegurança da Cisco Systems no Brasil.