Setor de seguros deve manter crescimento de dois dígitos em 2023
CNSeg aposta em crescimento maior do que o PIB, impulsionado pelos estímulos da PEC da Transição
Valor Econômico - 09 de Janeiro de 2023Setor de seguros deve crescer 10% no ano
CNSeg aposta em crescimento maior do PIB, impulsionado pelos
estímulos da PEC da Transição
O setor de seguros deve manter crescimento de dois dígitos
em 2023, segundo projeções da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). A
entidade prevê avanço nominal de 10% da arrecadação neste ano para a indústria.
A previsão tem como base uma visão mais otimista para o crescimento da economia
em relação ao consenso do mercado. A CNSeg pondera haver um potencial maior
para a expansão da atividade do que o esperado atualmente.
Enquanto a pesquisa Focus, do Banco Central, que ouve
economistas e analistas das instituições financeiras, aponta, na mediana das
estimativas, para um avanço de 0,80% do PIB em 2023, a confederação acredita
que a alta vai atingir 2,2%. Sobre a diferença, o presidente da CNSeg, Dyogo
Oliveira, afirma que as projeções da entidade incorporam uma expectativa sobre
os efeitos dos estímulos previstos na PEC da Transição sobre a economia.
“Essa injeção de recursos pode dar fôlego à atividade
produtiva e ajudar o setor de seguros”, aponta. “Acho que a maior parte do
mercado ainda não incorporou essa questão, mas, em algum momento, as projeções
devem começar a se ajustar.” Em análise conjuntural divulgada pela entidade em
dezembro, pesquisadores da CNSeg avaliam que “estímulos fiscais no montante
aprovado podem adicionar pontos de crescimento nas projeções do PIB”. Conforme
o documento, “R$ 150 bilhões representam 1,6 ponto percentual do PIB acumulado
nos últimos quatro trimestres, até o terceiro trimestre de 2022”.
Na visão de Oliveira, que é economista e ex-ministro do
Planejamento do governo Michel Temer, as preocupações com a questão fiscal
tendem arrefecer ao longo do ano. “Não acredito que o lado fiscal vai ser tão
afetado em virtude dos valores da PEC, estamos saindo de pandemia e é
compreensível que tenhamos foco nas pessoas e setores que foram mais
impactados”, diz. “A retomada do investimento público é necessária.”
O CEO da Essor, Filipe Alves, afirma trabalhar também com um
cenário de expansão de dois dígitos neste ano. “Acredito que seja possível
crescimento de dois dígitos [para o setor de seguros como um todo] e podem ter
alguns segmentos com crescimento mais acentuado, por exemplo, agronegócio, que
tem potencial de aumento da penetração de seguros com maior cobertura de áreas
cultivadas.”
A Fitch tem uma projeção de crescimento de prêmios para o
setor consolidado de 7,3% em 2023. A visão um pouco menos otimista da agência
de classificação de riscos incorpora o impacto da inflação sobre os custos de
sinistros. “Apesar da tendência consolidada de crescimento dos prêmios, a
inflação persistente pode pressionar ainda a taxa de sinistralidade em linhas
mais sensíveis aos aumentos de preços [na economia]”, avalia o diretor sênior Eduardo
Recinos, em relatório. A agência estima que o ano passado tenha chegado ao
final com um IPCA de 6,5%, enquanto 2023 deve terminar com um índice de
inflação de 5,2%.
O diretor comercial e de marketing da MAG Seguros, Nuno
David, também enxerga 2023 como um ano de crescimento para o setor. “Nós temos
nossa análise dentro de casa e projetamos a continuação desse crescimento
[visto em 2022]”, pontua. “A perspectiva de uma economia em expansão é
positiva, porque qualquer expansão do PIB ajuda [o mercado segurador].”
O setor pode se beneficiar neste ano de uma potencial
redução de sinistralidade em vários ramos importantes de seguros, como o auto,
vida e agro. “A gente tem uma expectativa de sinistralidade menor em 2023 do
que foi em 2022”, pondera Alves. “O ano passado foi muito difícil, por exemplo,
na questão climática, tanto no Brasil quanto no mundo, como seca na Austrália e
no Brasil, enchentes na Europa e furacões e neve nos EUA”, explica o CEO da
Essor. “A expectativa [da indústria securitária] é de um ano mais calmo em
termos de eventos climáticos.”
De acordo com o presidente da CNSeg, “em 2022 tivemos ainda
consequências da pandemia, além do crescimento da sinistralidade de seguro
auto, como resultado de aumento de preços de peças, veículos, serviços e
assistência veicular”. Além disso, “no rural tivemos dois anos seguidos de
eventos climáticos severos, que, somados, resultaram em R$ 17 bilhões de
indenizações só nesse ramo e esperamos que, neste ano, não aconteça de novo
outra crise climática tão severa”.
David, da MAG, compartilha a visão sobre a tendência para a
sinistralidade no setor. “Existe expectativa de queda de sinistralidade em 2023
na comparação com o ano passado”, pondera. “Mas a grande diferença em termos
desse indicador ocorreu na passagem de 2021 para 2022. Então tende a ser menor
neste ano, mas não tanto quanto ocorreu.”
A inflação mais persistente pode pressionar custos das
seguradoras, mas, por outro lado, pode ajudar os resultados financeiros. Isso
porque, nesse cenário, o Banco Central pode manter a taxa de juros em patamar
elevado por mais tempo. A Fitch aponta que uma Selic em dois dígitos ao longo
de 2023 “pode impulsionar os resultados financeiros das seguradoras
brasileiras, uma vez que a maioria dos portfólios das companhias está exposta a
títulos públicos ou papéis privados influenciados pela taxa básica”.
Para Alves, da Essor, “as seguradoras, em condições normais,
tendem a se beneficiar de uma taxa de juros mais alta”. Apesar da ajuda do
desempenho financeiro para os balanços, o executivo ressalva ver o setor muito
mais focado na melhora operacional mesmo em um ambiente de juros elevados. “O
enfoque hoje [do setor] é muito mais pelo lado operacional para evitar o que já
aconteceu no passado de depender do resultado financeiro.”
O crescimento de 10% estimado pela CNSeg para 2023, porém,
ficará bem abaixo de 2022 e mais em linha com a expansão de receitas vista em
2021, de 11,8%. A entidade projeta que o setor tenha fechado o ano com um
avanço consolidado de 17,1%.
De acordo com a entidade, os dados de 2022 até outubro
mostram que o segmento de danos e responsabilidades (sem DPVAT) movimentou R$
93,5 bilhões em prêmios. Do total, o segmento de cobertura de pessoas registrou
alta de 27,5%. Já os planos de risco arrecadaram R$ 49,8 bilhões, com
crescimento de 13,5%, e os planos de previdência privada aberta subiram 13,7%,
aos R$ 127,8 bilhões, em termos de contribuições.
Outro destaque em 2022 foi a capitalização, que ultrapassou
os números pré-pandemia e acumulou R$ 23,4 bilhões em faturamento, com expansão
de 16,8% em dez meses de 2022, na comparação com o mesmo período de 2021.
Conforme a
confederação, há ainda tendência de retomada da lucratividade das empresas,
após períodos difíceis vividos pelas seguradoras nos últimos anos, com o
desembolso de indenizações relacionadas à covid-19 e aos eventos climáticos
extremos ocorridos entre 2021 e 2022.
Até novembro de 2022, o lucro acumulado das seguradoras no
país passou dos R$ 15,7 bilhões, segundo dados da Superintendência de Seguros
Privados (Susep), consolidados pela Siscorp. O valor mais do que dobrou frente
aos R$ 7,12 bilhões no mesmo período de 2021.