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Eventos climáticos extremos podem custar US$ 2,6 bilhões ao país

Mudanças climáticas são percebidas como risco número 1 no Brasil em 2024, mostra estudo

Valor Econômico - 22 de Abril de 2024

As mudanças climáticas já figuram entre os dez principais riscos aos negócios no mundo. No Brasil, já são consideradas o principal risco para a economia, segundo a pesquisa Allianz Risk Barometer 2024, realizada com 3.069 especialistas de 24 setores econômicos em 92 países. A preocupação galgou sete posições em relação ao levantamento de 2023, sinalizando que as empresas sentem o impacto de eventos climáticos extremos e seus efeitos na economia.

O ano passado quebrou recordes em vários aspectos: foi o mais quente desde o início dos registros da Organização Meteorológica Mundial (OMM), com elevação da temperatura terrestre e na superfície do mar, o que potencializou fenômenos climáticos como o El Niño.

O setor de seguros, do qual faz parte o grupo Allianz, mentor do estudo, registrou perdas seguradas de catástrofes naturais acima de US$ 100 bilhões pelo quarto ano consecutivo; apenas os prejuízos por tempestades severas atingiram US$ 60 bilhões.

De acordo com a pesquisa, a agricultura é o setor da economia mais vulnerável às mudanças climáticas, seguido da indústria pesada e mídia (segundo maior risco). Bens de consumo, petróleo e gás, alimentos e bebidas têm nas mudanças climáticas seu terceiro maior risco.

“O fato de o Brasil ser um país rico em recursos naturais, como florestas, e ao mesmo tempo ter uma economia dependente da exportação de commodities agrícolas e minerais eleva a percepção de risco em relação à questão climática”, afirma David Colmenares, diretor-geral da Allianz Commercial para a América Latina.

Para empresas brasileiras o risco climático é triplo, aponta o executivo, pois envolve riscos físicos (perda ou dano de ativos, interrupção de negócios), de transição (evolução para uma economia mais sustentável, com pressões regulatórias e de mercado) e de responsabilidade, por litígios climáticos que possam causar danos financeiros e de reputação.

Ao mesmo tempo, o país tem oportunidades com a transição energética, por ser competitivo na geração de fontes renováveis, biocombustíveis e hidrogênio verde, fundamentais para o cumprimento do Acordo de Paris, que busca evitar a elevação da temperatura média global acima de 1,5ºC. O custo das mudanças climáticas para a economia global pode chegar a US$ 22 bilhões por ano, afetando de maneira desigual os países, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para o Brasil, foram calculadas perdas de US$ 2,6 bilhões. Mas as estimativas ainda não captam perdas nas finanças públicas, avalia Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS). “Ainda não temos a quantificação da perda real e sistêmica para a economia brasileira, levando em conta perdas fiscais de Estados e municípios quando é necessário reconstruir infraestrutura ou auxiliar populações afetadas”, afirma.

Segundo ela, o país está começando a incluir a resiliência climática no planejamento de ações governamentais, mas ainda faltam políticas transversais, que envolvem mais de uma área do conhecimento.

Um passo nessa direção foi dado com o Plano de Transformação Ecológica do governo federal, lançado durante a COP28, em Dubai, em 2023. Capitaneado pelo Ministério da Fazenda, com colaboração de várias pastas e do setor empresarial, é a grande aposta do governo Lula para atrair investimentos alinhados à economia verde: finanças sustentáveis, adensamento tecnológico, bioeconomia, transição energética, economia circular e nova infraestrutura e adaptação às mudanças climáticas.

“Um dos maiores desafios é reverter o processo de desindustrialização e, ao mesmo tempo, estimular atividades com baixa emissão de carbono que valorizem os ativos ambientais do país. O plano sinaliza nessa direção”, diz Viviane Romeiro, diretora de clima, energia e finanças sustentáveis do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que colaborou na sua elaboração.

As questões regulatórias, contudo, precisam caminhar mais rápido. Embora publicada há 15 anos, a Política Nacional de Mudança Climáticas não avançou na implementação de seus principais instrumentos, como o mercado de carbono. Ao mesmo tempo, a União Europeia, que já conta com um sistema de comércio de emissões desde 2005, aprovou um mecanismo para evitar o dumping ambiental - a realocação de negócios para países sem precificação de carbono, de modo a baratear a produção.

Na prática, esse mecanismo deve afetar exportações de países sem mercado de carbono regulado. “Se persistir a falta de política de Estado, produtos brasileiros estarão sujeitos ao ajuste de pagamento de preço do carbono equivalente ao que teria sido pago se a produção ocorresse na União Europeia”, diz Márcio Pereira, sócio de direito do ambiente e clima do BMA Advogados.

]Em sua primeira fase, a partir de 2026, o mecanismo europeu será aplicável a ferro, aço, cimento, fertilizantes, alumínio e hidrogênio, mas essa lista poderá ser ampliada no futuro, incluindo produtos do agronegócio.