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Cerca de 70% dos automóveis não contam com seguro no Brasil

Mais de 60 milhões de veículos rodam sem proteção para acidentes, roubos, furtos ou eventos potencialmente danosos, como enchentes e má conservação de vias

Valor Econômico - 15 de Julho de 2024

A cena é comum nas concessionárias: um comprador adquire um veículo novo, mas decide que só vai sair de lá após o carro estar segurado. Apesar de a experiência cotidiana passar a ideia de que a maioria dos automóveis conta com seguro, as estatísticas indicam o contrário.

Segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) apenas 30% da frota em circulação conta com apólices. Isso significa que 70% dos automóveis rodam sem qualquer proteção para acidentes, roubos, furtos ou eventos potencialmente danosos, como enchentes e até má conservação de vias. Os dados da entidade indicam uma quantidade de 20,1 milhões de veículos segurados para um conjunto de 62,3 milhões de automóveis e 9,7 milhões de caminhonetes em circulação no país, conforme dados de maio de 2024 do Ministério dos Transportes.

A lacuna de proteção é muito grande no país, e há vários anos esse índice não avança. Isso ocorre por alguns fatores. O preço é um deles. Uma pesquisa do Sem Parar mostrou que 63% dos donos de carros sem seguro não contrata a proteção porque considera o custo elevado. O valor cobrado em um contrato é definido por diversos fatores que incluem desde idade, valor estimado e localização até o gênero.

De qualquer modo, após a pandemia houve um crescimento generalizado desse custo devido a problemas de oferta, com interrupções nas cadeias de suprimentos de peças globais. Em cinco anos até 2023, o valor dos veículos zero quilômetro praticamente dobrou em termos nominais. Essa variação se refletiu também nos preços cobrados pelo mercado, uma vez que as indenizações têm de acompanhar os valores praticados.

A principal referência para o pagamento de sinistros no setor é a conhecida tabela Fipe. Em um ano, entre 2020 e 2021, por exemplo, esse referencial registrou alta média de 29,6%. Segundo a consultoria Jato, entre 2020 e 2022, os carros novos registraram um aumento médio de 51,5%.

Outro fator que têm pesado nesse 'gap' de proteção no mercado auto é a idade da frota. Carros muito velhos têm um nível de risco elevado tanto em termos de problemas mecânicos quanto de acidentes. O mercado, em geral, costuma recusar a cobertura de veículos com idades acima de dez anos.

No entanto, a frota brasileira vem em um movimento de aumento da idade média. Segundo dados do Sindipeças, entre 2014 e 2023, veículos na faixa de 11 a 15 anos saíram de uma participação de 15% para 31,3 da frota nacional. Além disso a idade média dos automóveis em circulação passou de 9 anos e 5 meses, em 2017, para 11 anos e 1 mês, no ano passado.

De acordo com os números do sindicato, os veículos com mais de dez anos são maioria na frota, ou 53,1%. As unidades com até uma década alcançam uma participação de 46,9%. Isso significa que, para a maior parte dos donos de veículos, o seguro pode ser um produto inacessível.