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As fraudes nos seguros


Gazeta Mercantil - SP - 29/03/2004 - 29/03/2004

Irregularidade atinge cerca de 30% dos sinistros de carro. Atualmente, a indústria da fraude é o grande calcanhar-de-aquiles do setor de seguros brasileiro. Um estudo da consultoria AT Kearney revela que cerca de 30% dos sinistros de automóveis pagos no País mascaram algum tipo de fraude. Tal estatística coloca o Brasil no preocupante quinto lugar do ranking mundial de golpes contra o seguro, além de dificultar a maior competitividade do setor.  A ação dos fraudadores promove uma sangria de recursos financeiros das seguradoras, obrigadas a cobrir os eventuais sinistros decorrentes das fraudes. Anualmente, o setor convive com prejuízos de até R$ 3,6 bilhões. Mas a faceta mais perversa da história é a de que o consumidor é quem acaba pagando a conta. Isso porque a fraude interfere diretamente na formação do preço final do seguro, pois as seguradoras são obrigadas a transferir parte do ônus da perda ao usuário final do produto.  Em paralelo à situação do mercado brasileiro, dados da Federação Nacional das Seguradoras, Empresas de Previdência e Capitalização (Fenaseg) mostram que o índice de fraudes de seguros nos EUA encontra-se, hoje, na casa dos 10%. Trata-se de patamar aceitável que, transportado para a realidade brasileira, permitiria redução de cerca de 20% no preço médio pago pelas apólices de seguro de automóvel, situada em torno de R$ 996,00.  Além do benefício direto ao consumidor, a diminuição do índice atual de 30% para 10% implicaria geração de 30 mil novos empregos e em arrecadação extra, por parte do governo federal, de R$ 200 milhões em tributos. Além disso, uma parcela considerável de usuários passaria a ter acesso ao seguro. Segundo o Ibope, o Brasil conta com 24 milhões de automóveis em circulação, sendo 8,2 milhões deles cobertos por apólices. A queda nos preços permitiria incorporar de 2,5 milhões de novos veículos à atual frota segurada.  No entanto, alcançar índices dignos de Primeiro Mundo exigirá uma mudança cultural da sociedade e das autoridades, visto que a fraude não é vista como crime de grave proporção. Um primeiro passo nesse sentido foi dado pela Fenaseg, ao lançar o Plano Integrado de Prevenção e Redução da Fraude em Seguros. O intuito da campanha é dificultar os passos dos estelionatários e acabar com a idéia de que fraudar seguro é um ato socialmente aceitável. Ela engloba 33 ações que envolvem esclarecimento da população e criação de mecanismos de investigação, repressão e mapeamento das fraudes em conjunto com órgãos públicos.  Além disso, ações paralelas também são bem-vindas. Um bom exemplo é o da Polícia de Salto, interior de São Paulo, que para combater as fraudes na cidade instituiu a necessidade de testemunha para registro de boletins de ocorrência (BO). Algumas seguradoras também montaram esquemas de vigilância constante no Paraguai - destino de veículos levados por segurados mal-intencionados -, onde fazem vistoria diária em cartórios para conferir números de chassis que aparecem em contratos particulares. Somadas a uma legislação mais rígida, as ações resultarão em ganhos para seguradoras, consumidores e poder público em geral.
 
Marcelo Blay - Vice-presidente do Sindicato das Seguradoras, Previdência e Capitalização do Estado de São Paulo (Sindsegsp).