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Dez meses e três sinistros complicados


Antonio Penteado Mendonça - 20/07/2007

Ao longo dos últimos dez meses o Brasil assistiu a três grandes acidentes, com forte impacto emocional na população e econômico na atividade seguradora. A queda do jato da Gol, o desmoronamento da estação Pinheiros do Metrô de São Paulo e a explosão do Airbus da TAM enquadram-se na categoria de grandes sinistros, em qualquer lugar do mundo. Ainda é cedo para se falar no total das indenizações, mas, com certeza, a soma delas ultrapassará facilmente a casa dos 500 milhões de dólares.
500 milhões de dólares é o valor da indenização paga pelo afundamento da plataforma P36, da Petrobrás, e era o maior valor pago em um sinistro na história nacional. Aliás, era um dos maiores valores pagos pela carteira de “marine” no mundo inteiro, até a ocorrência do atentado terrorista de 11 de setembro, em Nova York.
Como se vê, a ordem de grandeza dos três acidentes que enlutaram recentemente a nação é expressiva. E, se por um lado, principalmente a carteira de “aeronáuticos” pode sofrer uma revisão para cima em suas taxas de resseguros, por outro, mostra que o Brasil tem uma estrutura de proteção sofisticada, embasada em apólices de seguros modernas e que atendem convenientemente aos seus objetivos.
Além disto, fica patente que a estrutura do mercado é sólida e saudável e que a política de pulverização de riscos adotada pelo país é eficiente ao ponto de nenhuma das seguradoras envolvidas nestes acidentes ter sofrido qualquer abalo em sua saúde financeira ou capacidade operacional.
São dados importantes, especialmente agora que o monopólio do resseguro foi quebrado e está para ser regulamentada a nova forma de funcionamento deste segmento do negócio.
As tragédias individuais decorrentes de cada um dos eventos são inimagináveis e as perdas e a dor das pessoas envolvidas não poderão ser quantificadas ou integralmente ressarcidas, independentemente das indenizações que venham ser pagas. Afinal, qual o preço de uma vida humana? E em quanto ele sobe quando a perda diz respeito diretamente a um pai ou a um filho?
São valores que não encontram solução em nenhuma forma de indenização inventada pelo ser humano, seja de ordem financeira, seja de ordem psicológica, ou mesmo de vingança. A única reparação possível não existe: o retorno à vida do ente querido, ou a recomposição original do bem destruído.
Mas se não há maneira de ressarcir integralmente as perdas sofridas, o seguro tem a capacidade de minorar o sofrimento material, garantindo que a vida dos afetados siga em frente, dentro de parâmetros de bem estar e dignidade suficientes para que a dor da alma não seja agravada pela falta dos meios que a perda da pessoa amada ou do bem essencial poderia causar.
Mais que isto, o pagamento rápido e correto das indenizações é uma tranqüilidade para toda a sociedade e para a rotina da vida nacional, já que a comoção coletiva encontra um contraponto na certeza de que a perda será, pelo menos no campo material, efetivamente minimizada.
Finalmente, mas não menos importante, há ainda um viés que deve ser ressaltado: as indenizações de seguros são responsáveis pela garantia da existência e funcionamento futuro das empresas envolvidas nos acidentes. Indenizações deste porte muitas vezes são insuportáveis para o caixa das companhias, por maiores e mais sólidas que elas sejam. Ao transferir esta obrigação para suas seguradoras, as empresas aliviam a pressão sobre elas, liberando o dinheiro necessário para o giro de seu negócio. Vale dizer, para continuar gerando riquezas e postos de trabalho, as duas razões básicas para sua existência e importância social.