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O LADO BOM DO JURO ALTO


Existe um lado bom para o juro alto cobrado no Brasil? Por incrível que pareça, existe. E este lado afeta diretamente a atividade seguradora, influindo no preço dos seguros, especialmente, de veículos - 17/06/2011

Existe um lado bom para o juro alto cobrado no Brasil? Por incrível que pareça, existe. E este lado afeta diretamente a atividade seguradora, influindo no preço dos seguros, especialmente, de veículos.
O preço do seguro é o resultado de uma conta envolvendo vários fatores, a favor e contra o preço. O primeiro, como não poderia deixar de ser, é a sinistralidade da carteira. O segundo, os custos comerciais e administrativos da companhia. O terceiro, eventuais resseguros. O quarto, a carga tributária incidente. O quinto, a remuneração da aplicação do dinheiro arrecadado com a cobrança dos prêmios no mercado financeiro. E o sexto, o lucro pretendido pela companhia.
Ninguém discute: a sinistralidade da carteira de veículos está entre as mais altas do Brasil. Nem poderia ser diferente, já que, em São Paulo, mais ou menos a cada dois minutos e meio é roubado um carro.
Não há como o seguro custar barato. Quando a conta é anualizada, o número final é apavorante e explica porque as seguradoras pagam todos os anos mais de sete bilhões de reais em indenizações na carteira.
Mas não são apenas os sinistros que impactam o preço final do seguro de automóveis. As despesas administrativas, em grande parte representadas pelas comissões de corretagem, costumam ficar acima de 20%.
Como as despesas administrativas também não são baratas, e estão enxugadas quase que ao máximo, permitindo pouca margem de manobra, a forma das seguradoras serem mais competitivas que a concorrência está na otimização da aplicação dos recursos gerados pela cobrança dos prêmios.
É verdade que não há muita mágica. As aplicações das reservas em boa parte estão reguladas pelo governo e devem ser obrigatoriamente feitas em títulos públicos de liquidez imediata, o que restringe o campo de ação das empresas e as faz terem resultados bastante parecidos.
A soma da sinistralidade com as despesas costuma ultrapassar os cem pontos, o que implicaria em prejuízo, não fosse a contrapartida do resultado das aplicações financeiras. E é aí que o juro alto joga a favor do segurado. Quanto mais alto o juro, maior seu impacto no resultado final.
Como o seguro de veículos é um ramo em que a competitividade é altamente acirrada, cada ponto percentual positivo costuma ser revertido em vantagem para o segurado, ainda que diminuindo um pouco o lucro da seguradora.
 Numa conta de dono da padaria, a soma da sinistralidade e das despesas se aproxima de cento e cinco pontos, ou seja, como o prêmio representa cem pontos, a companhia estaria tendo um prejuízo de cinco pontos. Se não houvesse o resultado financeiro, a seguradora teria que obrigatoriamente aumentar o preço do seguro para se manter no mercado.
De outro lado, na medida em que este resultado cresce, a companhia pode até mesmo reduzir o preço do seguro, já que continuará rentável, mantendo o resultado desejado, ainda que com as despesas bastante elevadas.
Com o juro subindo, as seguradoras estão recebendo um enorme empurrão do governo. Resultados financeiros acima de 12% ao ano permitem um bom desempenho na última linha, ainda que o índice combinado fique acima de cento e cinco pontos.
Ou seja, o juro alto, que penaliza a nação e encarece a maioria dos produtos brasileiros, é um aliado da atividade seguradora, permitindo que as apólices custem menos, em função do seu impacto na conta de chegada de cada companhia.
Em outras palavras, se os juros altos comem o segurado pela perna e jogam contra ele em praticamente todas as situações, sua vingança – pode-se dizer assim – está no preço do seu seguro. Graças aos juros nacionais, as apólices acabam custando menos.