Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SE CORRER O BICHO PEGA, SE FICAR O BICHO COME
O Rio Grande do Sul foi palco de três enchentes do segundo semestre de 2023 até agora. As tempestades gaúchas se transformaram na maior catástrofe ambiental brasileira 05 de Julho de 2024Antes delas, o estado havia sofrido uma forte estiagem, que transformou o
rio Uruguai num riacho escorrendo entre as pedras. A agricultura gaúcha foi
severamente afetada, com impacto negativo no resultado do seguro rural, depois
de alguns anos de resultados positivos, que haviam animado o setor de seguros e
feito com que várias companhias entrassem no negócio.
São Paulo viu as chuvas fazerem as encostas dos morros de São Sebastião
virem abaixo e, quase que concomitantemente, viu parte de seu fértil interior
sofrer com secas devastadoras, que trouxeram para a região central do estado clima
de deserto.
A região amazônica migrou de uma cheia acima da média para uma seca muito
acima da média. Depois, ela deu lugar a um período mais normal de chuvas, mas agora
a seca ameaça retornar, trazida pelos efeitos da “La Niña”, que substitui o
fenômeno do “El Niño”, nas águas do Oceano Pacífico.
Escondido pelos enormes danos que se abateram sobre o Rio Grande do Sul,
o Recife sofre com cheias que transformam suas ruas em verdadeiros braços dos
dois rios que cortam a cidade.
E o Pantanal, uma das regiões mais bonitas do país e com flora e fauna
das mais ricas do mundo, é palco de enormes incêndios, que destroem milhares de
hectares de vegetação nativa, completamente fora do controle das equipes
encarregadas de combatê-los. Como o quadro se agrava dia a dia, a certeza dos
incêndios deste ano ultrapassarem a destruição causada pelos incêndios de 2020 já
aconteceu.
De outro lado, o litoral, que vem sendo regularmente maltratado pela ação
humana, assiste a ressacas muito mais violentas do que as tradicionais e o mar
avançar sobre várias regiões, engolindo praias, dunas, ruas e casas e ameaçando
causar danos muito maiores, inclusive a grandes cidades litorâneas, se a
temperatura subir apenas meio grau célsius.
Ou seja, os efeitos das mudanças climáticas caíram sobre o Brasil com
tudo. Não há como dizer que não é bem assim. Os eventos e os prejuízos
decorrentes deles estão aí, cobrando seu preço de uma sociedade completamente
despreparada para enfrentar o novo cenário. Ou o país passa a encarar as novas
ameaças com a seriedade necessária ou os estragos atingirão dimensões
inimagináveis, com danos de todas as ordens atingindo pessoas e bens, cada vez
com mais violência.
Entre as organizações mais preparadas para enfrentar o aquecimento
global, as seguradoras têm se destacado pelos estudos de todas as naturezas,
feitos ao redor do planeta, para levantar o potencial de danos a que estamos
sujeitos. Seria interessante o governo brasileiro acordar para o que está
acontecendo e para o tamanho da ameaça à sua frente. A demora e os erros na
ação no Pantanal mostram que ainda não há uma percepção clara do tamanho dos
riscos. Mas não há mais tempo para adiamentos ou promessas. É preciso começar a
trabalhar imediatamente. As seguradoras seriam parceiras preciosas para, dentro
do possível, ajudar a minimizar os danos.