Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
TEREMOS SEGURO OBRIGATÓRIO DE VEÍCULOS?
De acordo com o cronograma, a partir de janeiro, o seguro obrigatório de veículos deve voltar a funcionar e será obrigatório para todos os veículos automotores terrestres. 29 de Novembro de 2024De acordo com o cronograma, a partir de janeiro, o seguro obrigatório de
veículos deve voltar a funcionar e será obrigatório para todos os veículos
automotores terrestres, ou seja, substitui o antigo DPVAT ou reintroduz o
antigo seguro obrigatório de danos pessoais para veículos, com um desenho
parecido com o dele, mas diferente dele.
Agora é a vez do SPVAT (Seguro obrigatório para proteção de vítimas de
acidentes de trânsito). Ele substitui o DPVAT (Seguro obrigatório de danos
pessoais causados por veículos automotores terrestres). A base das garantias é
a mesma do seguro tirado de circulação pelo governo anterior. Não cabe aqui
analisar a correção ou a estupidez da medida, o que está em análise é se o novo
seguro vai cumprir sua missão adequadamente.
E a resposta inicial é não, não vai. Começa pelo risco real dele sequer
entrar em vigor. Vários governos estaduais já se posicionaram contra a cobrança
do prêmio e informaram que não farão a sua cobrança junto com o IPVA (Imposto
sobre a propriedade de veículos automotores), como acontecia com o DPVAT, que é
feita pelos estados. Se essa ameaça, bastante concreta, se mostrar real, o
governo federal vai ficar com a brocha na mão, sem mecanismos eficazes para
cobrar o seguro.
Para complicar um quadro já complexo, o novo seguro deve ser operado pela
Caixa Econômica Federal, que não é seguradora e, portanto, não tem autorização
para operar o seguro obrigatório. Importante salientar que a Caixa não é a Caixa
Seguridade, o braço de seguro do banco. A lei foi clara em dispor que a
operação do SPVAT será feita pela Caixa, ou seja, pelo banco, o que cria um
problema jurídico porque fere a lei que normatiza o mercado segurador.
Mais do que isso, da forma como está instituído, o SPVAT não é um seguro.
Ele pode ser um fundo, um imposto ou o que quiserem, mas com certeza ele não é
um seguro, nem integra o Sistema Nacional de Seguros Privados.
Ao longo dos últimos anos, a Caixa operou o DPVAT, principalmente porque
ela recebeu uma bolada de mais de 4 bilhões de reais, confiscados das reservas
da Seguradora Líder, que era a seguradora privada que operava o DPVAT. Com esses
recursos era fácil para o banco público pagar as indenizações. Afinal, o
dinheiro não era dela e fazer graça com dinheiro alheio é fácil. Só que essa
reserva acabou e, com o fim dela, a Caixa disse que não estava mais no jogo.
Foi então que votaram o novo seguro, que deve, por lei, também ser administrado
pela Caixa.
Aí surge um novo problema grave e que deve estar preocupando o banco.
Como único operador, toda a judicialização envolvendo o seguro obrigatório vai
cair nas suas costas. Tanto faz se DPVAT ou SPVAT, a Caixa vai responder pela
totalidade das ações envolvendo o assunto, com chances reais de perder a
maioria delas.
Finalmente, mas não menos importante, ao longo dos anos que a Caixa
administrou o DPVAT, o pagamento das indenizações minguou radicalmente,
deixando milhares de brasileiros sem receber as indenizações a que tinham
direito. São mais de 400 mil sinistros por ano! Será que ela se adequou para
enfrentar o novo cenário?