Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
ANÁLISE DA VIOLÊNCA
Os números sobre a violência brasileira acabam de ser divulgados e não são bonitos. 19 de Julho de 2024Os números sobre a violência
brasileira acabam de ser divulgados e não são bonitos. Seguimos com percentuais
elevados em praticamente todos os crimes, do homicídio ao roubo de celulares. É
verdade, alguns tiveram queda, como o total de homicídios, mas outros subiram,
caso dos estupros.
Entre secos e molhados, o Brasil
segue entre os países com maior número de homicídios do mundo. São cinco por
hora, o que representa 10% do total de homicídios no planeta. É para ficar
envergonhado, ainda que no total o país apresente a queda desse tipo de crime,
com a menor taxa desde 2011.
De outro lado, os estupros
cresceram. Dez casos são registrados por hora, e isso é só uma parte do número
real, porque muitas vítimas têm vergonha, se sentem constrangidas ou mesmo são
impedidas de apresentar queixa. Importante salientar que um número muito alto
desta modalidade de crime é cometido dentro de casa, quer dizer, por pessoas
próximas das vítimas, principalmente quando se trata de abuso sexual contra
crianças e adolescentes.
Há quem comemore a queda dos
roubos e a notícia é boa, mas não disfarça a realidade de que dois celulares
são roubados ou furtados a cada minuto, o que é um absurdo, mas está longe de
apresentar uma tendência de queda consistente. E o número de roubos e furtos de
veículos segue muito alto e também sem tendência significativa de queda.
Somados a eles, os outros tipos
de crimes contra o patrimônio, como roubos de cargas, estabelecimentos
comerciais, residências e pessoas aumentam ainda mais a sensação de insegurança
da população, o que faz do tema segurança pública o principal ponto de preocupação
da sociedade brasileira, devendo impactar as eleições municipais, ainda que o
responsável pela segurança pública seja basicamente o Estado e não o Município.
O quadro nacional é dramático e
um de seus componentes, na prática, derruba uma das teses mais comuns quando o
assunto é turismo. No imaginário popular, a Bahia e os baianos são pacatos,
afáveis, pacíficos e de bem com a vida, sempre dispostos a abrir os braços e
convidar o próximo para uma festa na rua ou coisa parecida. Não é bem assim.
Entre as dez cidades mais violentas do país, seis estão na Bahia.
A violência cobra um alto custo
da sociedade brasileira. E aqui estamos falando apenas da violência
deliberadamente dolosa, o crime praticado com a intenção de ser crime. Se
incluirmos os acidentes de trânsito nesta conta, o total é muito mais grave.
São dezenas de milhares de vítimas de outro tipo de violência, tão danosa
quanto os latrocínios, os homicídios ou os estupros.
Como não pode deixar de ser,
este cenário dramático impacta a sociedade e, dentro dela, impacta mais ainda o
setor de seguros, que é responsável pelas indenizações de milhares de casos
envolvendo seus segurados, vítimas de algum tipo de violência.
Os impactos mais fáceis de serem
percebidos são o preço do seguro e a não aceitação do risco, em função da
sinistralidade que inviabiliza o resultado da seguradora.
No curto prazo, lamentavelmente,
não vai acontecer muita coisa que modifique o quadro. O mais complexo é que o
tema vai muito além da ineficiência policial. Enquanto o país oferecer muito
pouco para a maioria da população, como pouca saúde e educação e quase zero de
assistência social para os mais carentes, o crime organizado não terá problemas
em encontrar os soldados para preencher os seus quadros.