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Cobertura de seguros no Brasil tem segundo pior resultado entre 14 países

Diferença entre total de perdas e indenizações pagas é de 93% no Brasil, sendo que apenas a China tem resultado pior

Valor Econômico - 10 de Dezembro de 2024

O Brasil apresentou o segundo pior desempenho em uma análise que avaliou a cobertura de seguros em 14 países, ficando atrás apenas da China. Segundo estudo realizado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), a chamada “lacuna de proteção” – indicador que mede a diferença entre as perdas econômicas totais e as indenizações pagas pelas seguradoras – alcança 93% no Brasil. Esse índice revela que apenas 7% dos prejuízos totais são cobertos por seguros no país, enquanto a China lidera o ranking com uma lacuna de 94%. Logo em seguida aparecem Índia (91%), Itália (80%), México (75%) e África do Sul (71%). A partir desses países, os índices de lacuna de proteção caem significativamente, variando de 55% na Alemanha a 21% no Reino Unido.

Alessandro Octaviani, superintendente da Susep, explicou que a tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul no início de 2024 foi a motivação para a realização do estudo. A pesquisa servirá como base para o Grupo de Política Nacional de Acesso ao Seguro formular sugestões visando melhorar o cenário. “Esse documento será compartilhado com todas as áreas da Susep e a sociedade brasileira para evidenciar onde temos lacunas securitárias”, afirmou Octaviani. Segundo ele, os dados demonstram a baixa penetração dos seguros no país, o que representa uma grande preocupação, mas também uma oportunidade de crescimento. “Precisamos focar em políticas públicas para melhorar esse quadro.”

De acordo com a Susep, as catástrofes naturais são algumas das principais situações em que a lacuna de proteção tem impactos mais evidentes, especialmente com o agravamento da crise climática. Dados da Swiss Re indicam que, em 2023, eventos climáticos extremos geraram perdas econômicas globais de US$ 280 bilhões, das quais apenas US$ 108 bilhões foram indenizados por seguros. Isso resulta em uma lacuna de proteção de cerca de 61,4% no mundo.

No caso do Rio Grande do Sul, o relatório revelou que, cinco meses após os primeiros eventos, os avisos de sinistros já alcançavam R$ 6 bilhões. O impacto total da catástrofe foi estimado em aproximadamente R$ 88,9 bilhões, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e o Banco Mundial. Deste total, R$ 69 bilhões foram absorvidos pelo setor privado, enquanto o restante foi arcado pelo setor público.

O grupo de trabalho criado pela Susep avaliará os produtos de seguros disponíveis atualmente no Brasil para buscar formas de ampliar a cobertura. Entre as propostas, estão a inclusão obrigatória de coberturas para inundações e alagamentos em seguros residenciais e o aprimoramento da capacidade das seguradoras para lidar com riscos crescentes associados a desastres naturais. Segundo o superintendente Octaviani, há casos em que riscos concretos não possuem cobertura adequada, e parcelas da população não conseguem arcar com os custos dos prêmios.

Para evitar que os seguros se tornem inacessíveis, Octaviani destacou a necessidade de conhecer melhor o mercado, promover a concorrência para evitar práticas abusivas de precificação e manter uma supervisão rigorosa de conduta. Ele ressaltou que, enquanto há pressão para aumento de custos em setores como a agricultura, em outros segmentos, como os de uso massificado, há espaço para a popularização dos seguros.