Pandemia ajudou na valorização da saúde privada, diz presidente da Bradesco Saúde
Para Manoel Peres, não deve ocorrer queda significativa na demanda por planos médicos. Casos de covid diminuem na rede privada
Valor Econômico - 30 de Agosto de 2021O presidente da Bradesco Saúde, Manoel Peres, disse que
houve uma queda no número de casos de covid-19, no Rio e em São Paulo, no
sistema privado de saúde. “Vimos uma estabilização nas duas semanas atrás e nessa
semana vimos queda no número de casos”, disse o executivo, durante Live do
Valor, desta sexta-feira (27). A experiência com segurados da Bradesco Saúde,
bem como em todo o segmento de saúde privada, é diferente da realidade da rede
pública, destacou o executivo.
Durante a Live, que abordou os impactos da pandemia e os
seguros de saúde, o executivo observou que há no mercado algumas análises
indicando queda na demanda por planos de saúde após o fim da pandemia. A visão
de Peres, entretanto, é que esse movimento não deve acontecer. “O que temos
percebido é que setor tem sido resiliente. No começo da pandemia, em função dos
efeitos econômicos, nós estimávamos uma queda no número de segurados, e isso
não aconteceu. O setor foi resiliente e as pessoas sentiram necessidade de
estar protegidas”, disse. Peres ponderou que, mesmo diante de uma piora no
cenário econômico, as pessoas tenderiam a se esforçar para manter o plano. “Se
tiver queda, não será significativa”, disse.
O executivo ainda foi questionado sobre os reajustes nos
planos, que chegaram a ser negativos no ano passado por causa da pandemia. Ele
explicou que a queda veio diante de aniversários de contratos entre dezembro e
março, período de queda na demanda de procedimentos. “Antes, os reajustes
ficaram abaixo do IPCA. Mas todos estão gerando agora, neste momento,
[correção] acima do IPCA, pelo menos 1,5 vezes a 2 vezes o IPCA. É a nossa
estimativa”, disse.
Sintomas prolongados da covid-19 são desafio
Segundo Peres, a empresa cobriu um total de R$ 4,5 bilhões
em contas relacionadas à covid-19. O valor engloba, sobretudo, internações e
testes PCR – gastos que prosseguem com a pandemia em andamento. “Temos um
volume expressivo de recursos na cobertura dos segurados relativo à covid-19”,
disse ele, apontando mais de 80 mil internações.
O grupo arcou com 1,4 milhão de exames de PCR. Um dos
desafios à frente é o sintoma prolongado de pacientes que tiveram covid-19.
“Entre 10% a 20% dos pacientes que tiveram covid-19 estão apresentando sintomas
prolongados, como cansaço, fadiga, distúrbio de sono”, afirmou o executivo. Ele
ponderou que esses sintomas não representam um custo unitário elevado ao setor,
uma vez que demandam tratamentos simples, como fisioterapias.
Segundo Peres, esse cenário deve afetar entre um e dois
pontos a sinistralidade por um período maior. “Lembrando que a sinistralidade
por causa das internações de covid-19 foi afetada em mais de 10 pontos”, disse.
O executivo destacou ainda que a taxa de sinistralidade do setor deve continuar
elevada no segundo semestre por causa da pandemia. “Ainda há casos de covid.
Temos volume de internação elevada, praticamente semelhante à fase inicial da
pandemia”, disse.
Procedimentos eletivos normalizados
Depois de uma paralisação nos procedimentos eletivos por
causa da pandemia, o atendimento agora se normalizou, afirmou Peres. “O estoque
de não realizados é muito baixo nesse momento', disse. 'No primeiro
trimestre, depois que tivemos a vacinação dos médicos, eles passaram a chamar
os pacientes para que eles viessem fazer os procedimentos. Não temos estoque de
procedimentos eletivos não realizados, com raríssimas exceções”, ressaltou
Peres, para quem a pandemia ajudou na valorização do serviço privado de saúde
no país.
Questionado sobre o crescimento de empresas como Rede D’or e
Dasa no país – há um forte movimento de consolidação em diversos segmentos,
incluindo no de saúde –, Peres diz não vê problema nisso. “Não enxergamos como
ameaça. Temos um nível de interdependência muito relevante. Então é tão
importante para a Rede D’or que nós estejamos saudáveis, como é para nós que
eles estejam saudáveis', comentou. 'Eles não operam plano de saúde,
não conhecem as reservas necessárias. E não operamos serviço hospitalar na
operadora. Não é razoável que alguém que presta serviço aceite correr risco com
uma carteira de saúde”, complementou Peres.