MDS amplia atuação no país por meio de aquisições
Mercado fragmentado de corretoras de seguros no país é campo fértil para grupo global incorporar empresas menores, diz CEO
Valor Econômico - 03 de Janeiro de 2022O Brasil já representa metade do volume de negócios da consultoria de risco e corretora de seguros e resseguros global MDS. Nascido em Portugal, o grupo está presente em sete países, mas tem atuação em 120 nações por meio da subsidiária Brokerslink. “No Brasil, o potencial de crescimento é muito grande, não apenas de maneira orgânica, mas também por meio de aquisições”, afirma o CEO global da MDS, José Manuel Dias da Fonseca, em entrevista ao Valor. Conforme Fonseca, a operação no Brasil alcança R$ 3 bilhões em prêmios administrados.
O grupo português entra em 2022 com novos donos. A Sonae e a
IPLF Holding, controladoras da MDS, anunciaram em 23 de dezembro um acordo com
o The Ardonagh Group para a venda de 100% do capital do grupo MDS. O novo
proprietário é o maior grupo de corretagem independente do Reino Unido,
presente em mais de cem países e faturamento de US$ 1,5 bilhão. A transação
será concluída no primeiro semestre de 2022.
A MDS tem crescido no Brasil, em grande parte, por meio de
aquisições de corretoras menores, o que tem permitido ampliar a atuação
regional. Segundo o CEO, o mercado brasileiro de corretagem é fragmentado, com
mais de 100 mil corretores, e a estratégia da empresa tem sido consolidar
operações em áreas e regiões complementares ao portfólio. “Temos menos foco em
ganho de escala e mais em adquirir corretoras que, sozinhas, não tinham mais
para onde crescer.”
A chegada do “open insurance”, o ambiente de
compartilhamento de dados e operações para o mercado de seguros, abre muitas
oportunidades no país, afirma Fonseca. Na visão do executivo, o novo ambiente
permitirá a criação de marketplaces, que vão alcançar novos públicos. “Da mesma
forma que o Uber, por exemplo, trouxe novos clientes ao mercado de transporte,
com a digitalização vão surgir segmentos novos, sobretudo de pessoas físicas,
que vão passar a comprar mais seguros. Isso porque vai ficar mais fácil,
simples e barato adquirir produtos de proteção.”
Conforme o especialista, dentro de um ambiente de maior impulso
à inovação, as corretoras especializadas vão ganhar ainda mais relevância. “Os
brokers estão bem posicionados, porque, por exemplo, uma ‘insurtech’ pode ter
um aplicativo fabuloso, mas não têm os clientes”, diz. “Para ser sensacional, o
app tem de ter um investimento gigante. As primeiras insurtechs adotavam o
discurso de acabar com as seguradoras existentes, mas o custo de aquisição do
cliente é brutal para essas startups. Por isso, hoje o que se vê no mercado
mundial é mais uma lógica de parcerias entre insurtechs, brokers e
seguradoras.”
Na visão de Fonseca, além da economia de custos, como uso de
“bots” na automatização de rotinas, as ferramentas tecnológicas vão trazer uma
revolução na forma como os produtos vão ser desenhados. “O uso de inteligência
artificial e análise de dados, por exemplo, vai levar à atuação mais preditiva
nas apólices de saúde.”
O CEO global da MDS vê oportunidades no segmento de pessoas
jurídicas. “No caso das empresas, é complicado comprar via digital e o papel do
consultor fica cada vez mais importante diante da complexidade dos riscos”,
avalia. As grandes corretoras, acrescenta, “têm muitos dados e podem
transformar informações em soluções relevantes aos clientes”.
Para Fonseca, “o digital deixa de ser uma disrupção e se torna algo básico”. No caso da MDS, o investimento em tecnologia se torna necessário diante do modelo “full service broker”, ou seja, uma atuação completa, desde pequenos negócios a resseguro.