Mercado de Seguros pode ganhar a primeira Spoc
Figura da Sociedade Processadora de Ordem do Cliente foi instituída como parte do ambiente de ‘open insurance’, o sistema aberto de compartilhamento de dados do setor
Valor Econômico - 30 de Outubro de 2023O setor de seguros no Brasil está prestes a ganhar uma nova instituição: a Sociedade Processadora de Ordem do Cliente, ou Spoc. A figura desse “hub” tecnológico de intermediação foi instituída como parte do ambiente de “Open Insurance”, o sistema aberto de compartilhamento de dados do setor, pela resolução 450 do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), de 18 de outubro de 2022. As informações são do site Valor Econômico.
A primeira entidade do gênero, a Guru Spoc aguarda apenas a autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para começar as atividades. A iniciativa reuniu, entre os fundadores, nomes como os de Antonio Cássio dos Santos, ex-presidente do IRB (Re) e ex-CEO da Generali, Zurich e Mapfre, e de Cássio Amaral, sócio do Machado Meyer Advogados.
O grupo conta ainda com a B3 como provedora de infraestrutura para open insurance em parceria com a Lina Infratech, especializada em compartilhamento seguro de dados em ecossistemas digitais. Segundo Amaral, a Spoc vai funcionar como “provedor de utilidades no open insurance”. Futuramente, com a implementação da interoperabilidade com o Open Banking, o ecossistema aberto de serviços bancários, as funcionalidades vão funcionar também no ambiente integrado mais amplo do Open Finance.
A Spoc vai atuar dentro do setor de seguros como um misto das funções que corretora de valores mobiliários e plataforma de ativos digitais desempenham na indústria de investimentos. A expectativa dos executivos é que a primeira Spoc do mercado seja autorizada e comece a atuar ainda neste ano. “Planejamos lançar, logo que recebermos autorização, uma carteira digital de seguros, um agregador de apólices e informações para clientes poderem gerir as coberturas e saber exatamente quanto pagam, o que está protegido, quais os benefícios, assistências, limites e assim por diante.”, disse Cássio Amaral, sócio do Machado Meyer Advogados.
Outra funcionalidade prevista para a plataforma é o comparador de preços e coberturas. “A sociedade processadora de ordens vai realmente colocar o cliente no centro do sistema e mudar o foco dos produtos para a necessidade das pessoas. A Spoc vai aumentar a consciência do cliente de seguros porque ele vai saber se paga caro ou barato, se as coberturas estão corretas para sua fase de vida, vai descobrir produtos que protegem necessidades que ele não conhecia.”, afirma Antonio Cássio dos Santos, ex-presidente do IRB (Re) e ex-CEO da Generali.
De acordo com o superintendente de produtos de seguros da B3, Ícaro Demarchi Araujo Leite, a operadora da bolsa vai prover a base tecnológica para a primeira Spoc do mercado. “A gente vai prestar suporte para APIs [protocolos de interligação de sistemas], monitoramento das APIs, auxiliar no gestão da jornada de consentimento, na transmissão de dados, segurança dos processos e tudo o que for demanda de iniciação de processamento das ordens do cliente.”
Conforme Antonio Cássio, a Guru tem como meta prestar serviços para corretoras de seguros de médio e pequeno portes, inicialmente, como um hub para os intermediadores, e ofertar aplicações, como a carteira digital, para pessoas físicas, mas no modelo B2B2C, no qual os parceiros fazem o contato com o consumidor final. “Essa oferta de novos serviços vai aprimorar e aperfeiçoar o mercado segurador como um todo, ou seja, vai ajudar a efetivamente digitalizar o setor por meio do modelo de open insurance.”
Para Amaral, a Spoc vai ainda ajudar a disseminar tecnologias, como ferramentas de inteligência artificial. “Os corretores poderão ajudar os clientes como uma fonte de educação financeira securitária, poderemos disponibilizar uma plataforma que viabilize ter acesso a IA e tirar vantagens de ‘big data’ e outras informações para oferecer a melhor proposta ao cliente e no momento adequado. Também, na ponta das seguradoras, podemos oferecer soluções de dados para que as companhias possam apresentar produtos diferenciados, envolvendo uso de precificação baseada no uso efetivo do seguro.”
Na parte de indenizações, os processos de sinistros vão ganhar eficiência. “Sinistros poderão ser regulamentados em questão de horas e, em muitos casos, o beneficiário até receber uma indenização quase instantaneamente”, diz Amaral. Além disso, a Spoc vai aumentar a oferta e viabilizar a prestação de outros serviços ao segurado, caso de assistências ou programas de descontos associados a seguros.
“Será possível conectar diversos mercados”, diz Leite, da B3. ”O seguro sempre foi mais centrado no produto, mas daqui para a frente tende a mudar para a referência do cliente.” Para o especialista, “uma diferença interessante em relação ao open banking é que o ambiente bancário aberto talvez não tenha um agente indutor como a Spoc tende a ser, mas esse papel, no futuro open finance, pode ser ocupado pela própria Spoc”.
Para Antonio Cássio, é o início de um processo de modernização da indústria de seguros que nenhum outro país pode fazer. “Só o Brasil tem um conjunto de participantes de mercado e regulação que permite essa transformação.” Conforme o especialista, um dos conceitos por trás dessa mudança é o de “upseling”, ou seja, ter mais serviços e vantagens pelo mesmo valor que o cliente já paga. “Essa visibilidade de tudo o que o cliente tem a sua disposição no mercado inteiro cria um efeito natural de concorrência, de os participantes oferecerem mais pelo mesmo [valor monetário]”, diz Antonio Cássio.
Os dados produzidos no âmbito das Spocs também vão permitir a customização e a criação de novos benefícios. “Se existe a percepção de haver algum problema, em um determinado perfil, de exaustão mental, por exemplo, as empresas podem criar programas de saúde mental, com acesso a academia, psicólogos, terapias e assim por diante. É a possibilidade de envolver e conectar novos mercados.” A carteira digital que será lançada pela Guru Spoc vai ajudar a pessoa não só a gerir, mas a entender e utilizar melhor os benefícios e coberturas. “As pessoas nem lembram, por exemplo, que têm garantia estendida em um eletrodoméstico, e vão ter dentro da ‘wallet’ todas as garantias. Vai saber exatamente quanto gasta, onde gasta e o que pode fazer com o mesmo dinheiro.”