Operação com saldo positivo anima o setor de seguros
Arrecadação em alta e aposta na combinação de fatores conjunturais, como aumento da massa salarial, redução da inflação e a retomada do crédito, devem manter a expansão na casa de dois dígitos
Valor Econômico - 30 de Abril de 2024O mercado de seguros brasileiro está otimista. Tem registrado crescimento robusto de receitas, ou arrecadação na linguagem técnica, na casa de dois dígitos. Esse desempenho, na visão dos empresários do setor, faz com que as previsões para este ano sejam as mais confiantes.
Dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros
Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg),
a entidade que reúne as companhias, mostram que a arrecadação das empresas
chegou a quase R$ 670 bilhões em 2023, com crescimento de 11,5% sobre 2022.
Isso contando todas as atividades, incluindo seguro saúde.
O saldo das operações foi bastante positivo, já que no ano
passado os prêmios pagos pelas seguradoras, ou as despesas com sinistros,
indenizações, sorteios e resgates ficaram em R$ 467,9 bilhões, um aumento de
7,9% sobre 2022, percentual bem abaixo da evolução da arrecadação. “Para este
ano, vemos a economia brasileira mais robusta, com o Produto Interno Bruto
(PIB) em alta de 2,5%, a massa salarial crescendo 7% em termos reais, a taxa de
inflação arrefecendo, os preços das commodities estáveis, e uma retomada das
operações de crédito”, afirma Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
A entidade projeta um crescimento do setor para este ano de
12%. Oliveira ressalta, no entanto, que as projeções não se baseiam somente nos
aspectos conjunturais da economia, mas em um componente estrutural que vem se
consolidando na sociedade após a eclosão da pandemia de covid-19, em 2020. “O
pós-pandemia trouxe um componente adicional ao setor, porque o seguro foi muito
utilizado durante aquele período, principalmente os ramos de saúde e vida.
Devido a esse aumento de demanda, as pessoas passaram a refletir mais sobre a
importância do seguro”, afirma o presidente da CNSeg.
De acordo com os cálculos do executivo, o bom desempenho em
2024 será percebido em diversos ramos do mercado segurador. A maior alta deve
ser registrada pelo seguro garantia, da ordem de 22%. Isso por conta da
retomada de grandes obras, da entrega de insumos para diversas atividades
econômicas, do aprimoramento de contratos entre as empresas ou mesmo entre
governos e as concessionárias, além de seguro de crédito e seguro para ações
judiciais. “O seguro garantia tem impacto com a retomada das grandes obras, do
crescimento econômico e do aumento das operações de crédito”, diz Oliveira.
O seguro de bens, que tem no automóvel a modalidade mais
relevante, apresenta potencial de expansão de 15% nas projeções da CNSeg. Isso
graças ao aumento previsto nas vendas de veículos novos e na renovação das
apólices dos que já estão em circulação pelas ruas. Previdência complementar é
outro ramo com desempenho positivo esperado pela entidade.
Segundo Oliveira, essa área deve mostrar uma alta de 9% por
conta do aumento da renda da população e a redução do endividamento das
famílias, o que dá margem para o planejamento financeiro de longo prazo. A
baixa penetração dos produtos de seguro no Brasil, uma queixa antiga do setor
no país, é outro fator estrutural que pode auxiliar na expansão. Oliveira
observa que o seguro de automóveis, o mais popular, tem apenas 30% da frota
coberta. No caso das residências, apenas 20% contam com seguro. “Em agro, temos
apenas 6% da área plantada assegurada”, diz.
Na Brasilseg, companhia que tem o Banco do Brasil como um
dos principais acionistas, as apostas para este ano recaem, principalmente, nos
segmentos de seguro rural e prestamista. “Nossa expectativa é muito otimista.
Prevemos um aumento na arrecadação de, no mínimo, 8%, podendo chegar a 13%”,
estima Amauri Vasconcelos, presidente da companhia. Suas contas se baseiam em
um Plano Safra robusto para o setor agropecuário, no aumento do número de
eventos nessa área e no crescimento das operações de crédito, que impulsionam o
prestamista.
A receita de prêmios da Brasilseg alcançou R$ 18 bilhões em
2023, acima dos R$ 15,8 bilhões de 2022. “Ano a ano temos ampliado o lucro, que
em 2023 chegou a R$ 4 bilhões”, conta. “O seguro rural é nosso carro-chefe. No
ano passado, 50,5% de nossa receita veio desse segmento”, afirma Vasconcelos.
Por conta desse fator, a Brasilseg criou um programa em 2023
para reforçar a atuação junto às concessionárias de carros e veículos pesados e
revendas de máquinas e equipamentos. “Dos R$ 18 bilhões de receita, R$ 2
bilhões vieram dessas parcerias. São mais de mil agências parceiras.”
Vasconcelos afirma que seu otimismo está calcado nas
expectativas para a economia do país, especialmente na redução da taxa básica
de juros, a Selic. Esse fator, diz ele, tem dois efeitos no desempenho das
companhias. Por um lado, com uma taxa mais baixa, as empresas têm ganhos
financeiros menores sobre suas reservas aplicadas.
Por outro, no entanto, “temos oportunidade de ampliar
receita com o crescimento da carteira, especialmente do seguro prestamista”.
Ele explica que, com juros mais baixos e com aumento de renda, a tendência é de
as pessoas tomarem mais crédito, contratando mais apólices de seguro
prestamista para garantir essas operações.
A Bradesco Seguros também tem o agronegócio como um dos
principais fatores de crescimento para 2024. No ano passado, obteve receita de
R$ 106,6 bilhões, o que representa expansão de 11,8% em relação ao resultado de
2022. O lucro líquido atingiu R$ 8,9 bilhões.
A estratégia da empresa é focada em uma agenda de
apresentações dos benefícios do seguro pelo país, com abordagem de corretores
de mercado para a venda dos produtos. “Vamos caminhar mais para regiões fora
dos grandes centros, em particular as do agro, Nordeste, Norte e o interior de
São Paulo. Essa é uma tendência natural do mercado segurador no Brasil. Nosso
desafio é ampliar o acesso ao seguro onde ele é mais necessário e desejado”,
afirma Ivan Gontijo Junior, presidente da Bradesco Seguros.
Para a Allianz Seguros, que teve aumento de receita de
prêmios, em 2023, de 5,3%, para R$ 9,2 bilhões, as principais linhas de
crescimento devem vir do seguro auto, seguros corporativos e de pessoas. A
estratégia da empresa, segundo Eduard Folch, presidente da Allianz, continuará
focada em três pilares fundamentais: crescimento, margem e eficiência de
capital. “Dessa forma, buscamos fortalecer a base de segurados, diversificando
os negócios, ou seja, descentralizando do automóvel, e expandindo a presença nos
mercados onde atuamos. Embora São Paulo continue sendo um mercado crucial,
estamos empenhados em aumentar nossa presença nos demais Estados”, afirma
A Mapfre aposta no reforço dos ramos de seguros automotivo,
de vida e agrícola para este ano, áreas que são consideradas essenciais para o
presidente da empresa no Brasil, Felipe Nascimento.
Para a Porto Seguro, o crescimento deve vir das carteiras de
auto, vida e previdência, além do seguro patrimonial - empresarial e
residencial. “Pensando nesse cenário, a tendência é que essas coberturas ganhem
mais espaço dentro do mercado de seguros”, avalia Rivaldo Leite, CEO da Porto
Seguro.