O desafio de financiar a adaptação das cidades às mudanças climáticas
O tema é muito urgente porque ele já não é mais um assunto do futuro. O impacto das mudanças climáticas já se mostrou real no Brasil e a frequência dos eventos deve se tornar ainda maior. Por isso, o ICS (Instituto Clima e Sociedade), em parceria com diversas entidades, entre elas a CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), promoveu uma discussão sobre Os Impactos das Mudanças Climáticas: Como Escalar a Adaptação Financeira e Construir Cidades Resilientes.
O debate aconteceu sobre a reflexão de como as cidades podem
pensar em políticas públicas para todo o seu entorno e partir de várias esferas
de Poder, além da iniciativa privada e entidades representativas da sociedade.
Os especialistas afirmam que estamos na era da adaptação aos impactos dos
riscos climáticas e é preciso pensar, principalmente, nas populações mais
vulneráveis, porque elas são as mais (e primeiras) afetadas pelos eventos
climáticos.
A CEO do ICS, Maria Netto, contou que a ideia do evento
nasceu da urgência de discutir o tema e trazer todos os tomadores de decisão
para a mesa, sejam eles governadores, prefeitos, executivos do setor privado,
mercado de seguros etc., pensando nos problemas comuns e nas soluções
possíveis. O Brasil assumiu a presidência do G20 com vários desafios e
oportunidades para fortalecer a entrega de financiamento climático e avançar
com importantes discussões internacionais em grandes questões de financiamento climático.
Ao mesmo tempo, o financiamento global para adaptação climática caiu de 7% para
5% nos últimos dois anos e há uma necessidade urgente de maiores investimentos
globais em esforços de adaptação climática para enfrentar os crescentes
desafios impostos pelas mudanças climáticas.
“O Brasil não teve evento extremos antes, com grande custo
para todos os setores. Porém, isso vem aumentando exponencialmente nos últimos
anos. Precisamos entender estes riscos e ninguém melhor do que os agentes do
mercado de seguros para ajudar nesta tarefa”, ponderou Maria. Ela acrescentou
que o seguro tem diferentes papeis nesta mesa, mas é preciso ter uma visão mais
ampla, junto com a sociedade civil, de como se planejar para enfrentar estes
riscos.
O evento foi realizado para estabelecer uma agenda de
diálogo internacional com agentes econômicos estratégicos, internacionais e
formuladores de políticas para avaliar o progresso e discutir desafios e
soluções inovadoras para promover o aprimoramento do financiamento da adaptação
e o desenvolvimento de cidades resilientes.
“O mercado de seguros já está integrado à agenda climática,
que envolve uma relação global. O enfrentamento da crise climática vai exigir o
maior esforço de organização entre pessoas, governos, universidades, empresas,
centros de pesquisa. As mudanças climáticas são o resultado de um conjunto de
ações onde a prática individual é insignificante. O problema é o conjunto das
ações. É preciso quebrar o paradoxo da adaptação é fazer o investimento sem a
certeza de que aquilo vai acontecer com você”, comentou Dyogo Oliveira,
presidente da CNseg.
A indústria de seguro sabe gerenciar risco na sua essência e
conhece o risco climático, por isso seu papel é atuar na prevenção e na gestão
do risco. “Toda a agenda de mitigação é fundamental, mas a falta da adaptação
mata”, sentenciou Dyogo, ressaltando que as populações dos países mais
vulneráveis são as que serão mais atingidas pelas mudanças. A dificuldade é
como coordenar os investimentos globalmente para sair do processo de inação.
O mercado de seguros pode colaborar com esta agenda das
maiores diferentes maneiras, seja criando seguros sociais contra catástrofes,
seguros para infraestrutura, produtos para proteção agrícola ou investimento do
setor em títulos sustentáveis. O importante é estar próximo às discussões para
promover medidas capazes de tornar as cidades mais adaptadas aos riscos. Muito
foi discutido sobre a construção de infraestruturas resilientes, medidas que
não foram consideradas no Novo PAC do Governo Federal, por exemplo.
Desta forma, Oliveira acredita que é preciso colocar os
conceitos de mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas nas
discussões setoriais do Governo, nas agendas de transporte, agricultura e
infraestrutura.
Números envolvidos
Butch Bacani, Head of Insurance do Programa de Meio Ambiente
da ONU, apontou que 2,2 bilhões de pessoas (40% da população global) são
afetadas diretamente pela degradação do meio ambiente Cerca de 577 mil bilhões
de dólares da produção agrícola global anual estão em risco devido à perda de
polinizadores. “O declínio da natureza e da biodiversidade nas trajetórias
atuais prejudicará o progresso em direção a 35 das 44 metas dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU relacionadas à pobreza, fome, saúde,
cidades aquáticas, clima, oceanos e terra”.
Pelo lado das seguradoras, Norma Rosas, executiva da Global
Federation of Insurance Associations (GFIA), informou a associação recomenda o
investimento nas pesquisas para redução dos riscos, com ações para prevenir
grandes perdas futuras. “Teremos que investir em produtos parametrizados,
específicos para eventos climáticos. Além disso, a GFIA recomenda a promoção de
produtos de seguros adaptados às necessidades locais, principalmente através do
fomento do microsseguro quando possível”.