Diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária
Apesar dos avanços na conscientização, número de mortes no trânsito ainda é alarmante
O poder público e o setor privado têm ampliado a sua preocupação com a questão da segurança no trânsitoO Movimento Maio Amarelo já ultrapassou os limites do mês de maio, tornando-se um evento perene, e as fronteiras do Brasil, atingindo outros países, lembra ele. Ramalho destaca, contudo, que os números de mortes no trânsito ainda são alarmantes, o que demanda que o trabalho de conscientização seja constante
Como está evoluindo o trabalho de conscientização da sociedade em relação à segurança no trânsito? Tem sido registrado avanços?
O
trabalho para conscientizar a sociedade para que sejam adotadas atitudes mais
seguras no trânsito é árduo e precisa ser constante. Ainda matamos anualmente
muita gente e essa realidade impacta profundamente a economia do país. No ano
de 2017, último dado oficial divulgado pelo DATASUS, foram mais de 35 mil
mortes por acidentes de trânsito. Trata-se de um número alarmante. Os avanços
acontecem sim, mas poderiam acontecer de forma mais abrangente e rápida se
avançássemos em questões como a melhor formação do condutor, o investimento em
educação para o trânsito dentro das escolas e medidas fiscalizatórias mais
eficientes.
O governo de São Paulo tem adotado também iniciativas de conscientização e de mobilização da sociedade com o objetivo de reduzir o número de mortes e de feridos nas ruas e estradas. Como o senhor avalia a participação do poder público e da iniciativa privada em iniciativas em prol de um trânsito mais seguro?
Podemos
destacar que tanto o poder público quanto a iniciativa privada têm voltado seus
olhares para a necessidade de se conscientizar para um trânsito menos violento.
Prova disso é o maior número de ações que temos registrado, a cada ano, durante
o Movimento Maio Amarelo, que passou a acontecer também nos outros meses do
ano, com atividades contínuas e de grande abrangência. Nós do Observatório
conseguimos dar suporte para todos aqueles que desejam abordar o tema trânsito
no seu dia a dia. Prova disso é o Programa Laço Amarelo, que entrega
mensalmente aos parceiros conteúdos de segurança no trânsito a serem
trabalhados em diversos níveis e em várias linguagens.
O Maio Amarelo já se consolidou como um evento importante desta mobilização por um trânsito seguro. O Sindseg SP tem adotado iniciativas com o objetivo de tornar a preocupação com a segurança no trânsito uma iniciativa que vai além do mês de maio. Como o Observatório tem atuado em relação a essa questão?
Exatamente!
O Maio Amarelo já ultrapassou os limites do nosso país e do que antes só
acontecia durante o mês de maio. Temos ações acontecendo perenemente em todo o
mundo. Para contribuir com o fomento dessas ações e de outras medidas que
favoreçam o trânsito mais seguro, temos trabalhado fortemente para que o
PNATRANS – Plano Nacional de Redução de Acidentes de Trânsito, promulgado no ano
passado, seja realmente implantado pelos municípios brasileiros. Parabenizamos
o Sindseg SP e a CNSeg, entidades Laço Amarelo, por fazerem parte dessa
iniciativa para a redução de acidentes. São exemplos para outras
instituições, pois entendemos que existe uma grande
oportunidade para o mercado segurador ao se tornar parceiro do Laço Amarelo
como forma de redução de acidentes. Cabe lembrar que um acidente de trânsito
pode custar até R$ 5 milhões para o mercado segurador, já que envolve o seguro
de vida, seguro saúde, seguro de terceiros, do automóvel, da infraestrutura que
sofre tal avaria.
O Observatório realizou, em parceria com o Sindseg SP, seminário sobre mobilidade urbana. Quais foram os resultados dessa iniciativa?
A
parceria entre o Sindseg SP e o Observatório sempre rende bons frutos. Prova
disso foi justamente a realização do Seminário de Mobilidade Humana, Segura e
Sustentável, que aconteceu em maio. Conseguimos reunir num mesmo espaço todos
os entes da sociedade para juntos discutirem as transformações que a mobilidade
urbana. O resultado dessa união de esforços foi compilado num book que, além de
analisar os pontos abordados nas discussões, propõe medidas práticas para que
pedestres, ciclistas e motociclistas transitem de forma mais segura pelas ruas.
Levamos esse arrazoado a Brasília (DF) e aos Legislativos paulista e federal
para que conheçam a contribuição coletiva resultante desse evento e possam
adotar medidas em todos os sentidos da mobilidade: educação, fiscalização e
engenharia.
Como o senhor avalia as parcerias firmadas com o Sindseg SP e com o setor segurador?
São
parcerias já consolidadas, que lançam foco em questões nem sempre discutidas
amplamente. Recentemente divulgamos dentro do espaço do Sindseg SP estudo que
apontou a efetividade da Lei Seca em nosso país, quando a lei completou dez
anos. Isso só reforça o compromisso que temos pelo trânsito seguro.
Quais são os projetos em que o Observatório tem atuado?
Um dos principais projetos do
Observatório é colocar o Programa EDUCA na grade curricular do ensino
fundamental. Disponível na plataforma do Ministério da Educação (MEC), o
conteúdo do Programa Educa, desenvolvido pelo Observatório, contempla o Ensino
Fundamental I e II e está disponível para download. Ao todo, são nove livros
para o aluno e nove para o professor, além do livro de apresentação e de
referencial teórico. O conteúdo prevê a inclusão da Educação para o Trânsito de
acordo com as disciplinas e áreas de conhecimento do Ensino Fundamental. E já
estamos preparando o próximo seminário de Mobilidade Humana, Segura e
Sustentável e convidamos todos a participarem. Vamos propor debate sobre o
cenário atual das vias e rodovias brasileiras com o viés da segurança viária e
promover ampla discussão entre os representantes dos setores públicos e
privados responsáveis por concessão, projeto, financiamento, auditoria,
usuários e fiscalização. O Seminário de Mobilidade Humana, Segura e Sustentável
– Rodovias que perdoam será realizado no dia 12 de setembro pelo Observatório
Nacional de Segurança Viária. Desta vez, o evento acontece em Brasília (DF).