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Walter Pereira
Walter Pereira

Presidente da Comissão de Automóveis da FenSeg

Seguro auto: expectativa é de que retomada se inicie no último trimestre

Walter Pereira, da FenSeg, fala sobre o futuro do setor
10/07/2020

Impactado pela pandemia do novo coronavírus, que reduziu acentuadamente a fabricação de automóveis e manteve as concessionárias fechadas, o seguro auto sofreu, no acumulado até abril, retração de cerca de 4,5%. Para o presidente da Comissão de Automóveis da FenSeg, Walter Pereira, a expectativa é a de que esse segmento da indústria seguradora deverá voltar a apresentar sinais de crescimento no último trimestre. 'Isso dependerá do próprio controle da pandemia. A retomada tem de ser muito bem conduzida porque há o risco de se elevar a taxa de contágio e causar um colapso do sistema de saúde', disse ele

Como tem sido o desempenho das vendas do seguro auto durante o período de pandemia?
 
Ser observarmos o primeiro trimestre deste ano, não tivemos um impacto negativo. Começamos a fase de isolamento a partir da segunda quinzena de março. Em abril, tivemos alguns fatores que são grandes ofensores ao mercado com as concessionárias de veículos fechadas e a produção de automóveis em queda. Houve uma perda de tração na indústria automotiva de 99%. Nosso mercado é tracionado pela venda de veículos novos e pela oferta de crédito, fatores macroeconômicos que ficaram parados. Se tomarmos o acumulado até abril, já abrangendo um período da pandemia, e compararmos com o mesmo período em 2019, veremos que houve uma perda de algo entre 4,5% e 4,6%. Então, é claro, vamos ter um impacto. Não estamos em retomada. Passamos o mês de maio em isolamento social. A gente vai sofrer com esse período de pandemia até que a economia comece a retomar.
 
Há algum cálculo em relação ao resultado das vendas neste ano?
 
Qualquer exercício de previsão que se fizer neste momento é futurologia. É claro que o mercado vai se comportar de acordo com a economia. Se a retomada for mais rápida, a gente consegue tracionar um pouco melhor, se for mais alongada ou lenta, isso se refletirá. Esperamos que no último quadrimestre deste ano já estejamos em uma curva ascendente de retomada. Mas isso dependerá do próprio controle da pandemia. São Paulo, que é o motor econômico, está agora tomando alguns passos nesse sentido. Mas essa retomada tem de ser muito bem conduzida porque há o risco de se elevar a taxa de contágio e causar um colapso do sistema de saúde, o que obrigaria a voltarmos à situação em que estávamos antes ou algo pior, que é o fechamento mesmo. Algumas montadoras voltaram a ativar sua linha de produção. A roda começou a girar. Isso vai depender de uma série de fatores.
 
Que lição se pode extrair desse período de isolamento, em relação à comercialização do seguro auto?
 
Eu acho que o mundo será diferente. O comportamento do consumidor e das empresas será diferente. Talvez tenhamos acelerado algumas medidas internas nas companhias. Já se tinha algumas mudanças no radar, mas não era para o momento zero. Por exemplo, digitalizar mais a venda. Não estou falando de mudar o canal de venda, mas sim de digitalizar um pouco mais o processo de venda. Apoiar o corretor na digitalização do seu negócio. Acho que isso foi uma boa lição para o mercado. Essas mudanças eram necessárias e tiveram de ser feitas de uma maneira mais acelerada do que se previa. Hoje somos capazes de fazer uma vistoria mobile, coisa que estava caminhando, no mercado, em projetos, ensaios e pilotos. Com a pandemia, diante da necessidade do cliente de não querer receber pessoas estranhas no seu ambiente, possibilitamos que ele próprio fizesse suas inspeções por meio de seu celular. O corretor começou a ofertar mais os seus serviços de forma digital a seus clientes. Meios de pagamento, débito, boleto, cartão de crédito, estão sendo movimentados, com novidades como o pagamento via WhatsApp. Essas lições foram importantes para nos indicar que podemos trabalhar à distância. O mercado de seguros provou que tem uma eficiência muito boa, no que diz respeito a atendimento ao cliente. Basta lembrarmos que a maioria das companhias em poucos dias começou a atuar 100% em home office e a qualidade de atendimento ao cliente não degradou. Pelo contrário, manteve-se em uma curva crescente de melhoria. Isso mostra uma boa resposta do mercado de seguros em seus processos tecnológicos. E o próprio consumidor também começou a exigir do setor um pouco do modelo que ele encontra ao adquirir outros serviços e produtos, passando a utilizar os canais eletrônicos. Acho que houve um aprendizado muito rico, em termos serviços, de qualidade e de velocidade para a adequação, embora em meio a uma situação muito ruim. Nós podemos fazer aquilo que for necessário para nos adequarmos a uma necessidade, ou a um novo normal, como todos definem.
 
Como o setor está se adequando à mudança de comportamento das gerações mais novas em relação ao automóvel?
 
Temos na mesa vários itens para serem analisados. Fala-se muito em compartilhamento de veículos, em mobilidade e novas tendências. Fala-se muito também que o consumidor do futuro tem uma tendência maior a ter a posse do que de ter a propriedade. Creio que as necessidades estão mudando. Já se fala em produtos com a cobertura intermitente, que você liga e desliga, na medida em que necessita da cobertura. Acho que o mercado deve adequar os seus produtos em um tempo curto. Esse processo também foi acelerado e isso está no radar de todas as empresas que atuam no segmento. Precisamos ofertar aquilo que o cliente deseja comprar. Um passo atrás a isso, eu entendo que precisamos ensinar o cliente a se proteger. Não é só comprar a cobertura do seguro. É o cliente se proteger, mesmo. Como exemplo, podemos citar a situação que vivenciamos no início do ano. Podemos dizer ao cliente: “em determinado lugar vai chover e há risco de enchente. Por isso, não vá para lá”. Esse é um trabalho que o mercado de seguros precisa fazer. Ajudar o cliente a se proteger, a comprar uma proteção, ajudar o distribuidor na oferta mais adequada de produtos e serviços à necessidade de seu cliente. Esses são pontos que a gente não pode perder de vista em função dessa nova tendência. Em resumo, acho que as companhias precisam ter a possibilidade de atender os seus clientes pelos canais que ele deseja utilizar e ter produtos que ele deseja comprar. A tecnologia nos permite lançar rapidamente um produto e fazer correções também rapidamente. Isso é o que temos de ganho, aprendizado e desafio.