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Fase 4 do Open Finance foca em investimentos, seguros, previdência privada e câmbio

Valor Econômico - 07 de Dezembro de 2022

Compartilhar os dados cadastrais e de transações atrelados às contas bancárias, cartões e contratação de crédito para, em troca, receber propostas com melhores produtos, taxas e serviços. A ideia arrojada trazida pelo ecossistema do open finance (sistema financeiro aberto) está mais popular entre a população bancarizada e ajuda a preparar o terreno para o que vai se consolidar em 2023: o compartilhamento de informações dos produtos de investimentos.

Só na primeira metade de 2022, foram mais de 6,7 milhões de consentimentos dados por clientes que, por opção, escolhem dividir o histórico de comportamento de conta, de cartão, e de crédito. No segundo semestre, o percentual de pedidos cresceu cerca de 40%, de acordo com o Comitê do Open Finance Brasil, que reúne mais de 800 instituições e 11 associações de setor.

O cartão de visitas da chamada fase 4, que envolve informações e dados de investimentos, seguros, previdência privada e câmbio, já foi apresentado, ainda que de forma um tanto quanto tímida. O anúncio da parte mais burocrática foi em dezembro de 2021, e envolvia só os prestadores de serviços. O cronograma previa que a partir de maio de 2022, o cliente entraria no jogo e, sob a expressa autorização dele, a sua rotina de investimentos seria compartilhada com os bancos participantes, visando receber propostas de melhores condições em serviços e produtos.

Mas, na vida prática do investidor, o processo vai demorar mais um pouquinho para chegar. “À luz do programa open finance, a habilitação do cliente para a fase de compartilhamento de dados sobre investimentos será em 2023, diz Elcio Calefi, diretor de tecnologia e operações do Comitê do Open Finance Brasil.

O cronograma do open finance sempre foi tema de debates, dado os prazos para o tamanho do desafio do projeto. Com atualizações de funções da fases 2 e 3 (uma nova versão do compartilhamento de informações de conta, cartão e crédito acaba de entrar no ar e está prevista uma nova versão voltada aos iniciadores de pagamentos), o calendário ficou ainda mais apertado.

Calefi comenta que essas melhorias no ecossistema também vão se refletir positivamente para o funcionamento da fase de produtos não bancários. Para visualizar os efeitos da promessa, basta pensar que, para o usuário, a dinâmica da fase 4 será a mesma da fase 2: dar o aceite para que as instituições se conectem diretamente às plataformas e acessem os dados autorizados.

“Temos um cronograma e o desejo de fazer tudo o mais rápido possível, mas a preocupação central é a qualidade do que se está entregando”, comenta Leandro Vilain, diretor executivo de Inovação, Produtos e Serviços Bancários da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). ”A recepção de milhares de informações, como acontece no open finance, exige que vários processos sejam olhados com cautela. Os bancos estão numa fase de aprendizado das formas de conexão e da qualidade do dado que chega”, diz.

Além da parte operacional, para que os produtos não bancários entrem na ciranda do open finance, é preciso o olhar do Banco Central (BC), da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Na mesa desses reguladores do ecossistema estão os projetos das regulações necessárias para dar segurança aos usuários e ao próprio sistema financeiro nacional.

Isso ajuda a explicar, em partes, porque apesar das propagandas dos bancos falarem – numa mesma frase - em open finance e investimentos, compartilhar os dados desses produtos não é possível na sua forma completa. Com tudo isso em mente, a avaliação de Vilain, da Febraban, é de que há chances da fase 4 ocorrer ainda no primeiro trimestre de 2023.

'Quando falamos da fase 4, há desafios adicionais, como a parte educacional voltada a explicar o compartilhamento de um novo conjunto de informações e, também, a parte de padronização que precisa ser implementada para os produtos”, pondera Thiago Pontes, coordenador de open finance e API da XP.

O desafio de fazer essa engrenagem funcionar é acompanhado da necessidade de agradar o usuário, observa Gabriel Pereira, gerente de comunidade na Finansystech, empresa que oferece tecnologia para mais de 30 instituições financeiras que desejam participar do open finance. Pereira destaca que um desafio comum é mapear qual o benefício mais desejado pelo cliente: se um retorno puramente financeiro ou ter uma jornada mais fácil na hora de acessar produtos bancários e não bancários. Há ainda o fator tempestividade.

“Uma coisa é o benefício e a outra é a personalização do produto a partir da dor pessoal. Mas tudo isso só acontece quando o cliente ‘entrega’ o dado’. A partir disso, em quanto tempo ele terá a resposta? Para um crédito imobiliário, ele pode aceitar esperar. Mas para contratar um cartão, o senso de urgência é muito maior”, analisa Gabriel Pereira, que também é criador da newsletter Let's Open.

Para ele, parte da resposta para melhorar a experiência de consentimento é o avanço da identidade digital no ecossistema financeiro. “Na medida que a identidade digital se consolidar, ela vai ser crucial para a experiência e para diminuir a fricção. Com ela, o cliente pode compartilhar os dados uma vez só, via sistema Gov.br, em vez de ter de compartilhar cinco vezes com cinco bancos, por exemplo', explica.

O que já aconteceu até aqui?

Muita coisa aconteceu até aqui. Segundo o Comitê Open Finance Brasil, 2022 é um ano em que grandes resultados foram alcançados mesmo com os desafios de prazos e escopos a serem cumpridos. “A taxa de sucesso das chamadas para compartilhamento se mantém alta, em 90%, o que indica uma estabilidade. A população bancarizada ativa já fez mais de 10 milhões de consentimentos, é um número muito relevante de pessoas permitindo a troca de informações sobre conta, cartão e crédito”, comenta Elcio Calefi, do comitê gestor do Open Finance Brasil.

De acordo com a Febraban, cerca de 400 milhões de chamadas via Api, ou seja, quando as instituições financeiras se conectam para trocar informações de dados cadastrais, movimentações de conta corrente e produtos de empréstimo, estão sendo realizadas por semana.

“O número de chamadas já é maior do que o Reino Unido registra no seu open finance em cinco anos. Cerca de 80% desse volume é gerado por bancos que fazem parte da Febraban”, diz Vilain. A entidade foi uma facilitadora para a troca de informações de produtos bancários. Uma estrutura centralizada com cerca de 200 pessoas oferece suporte para que os bancos consigam estabelecer as trocas necessárias para que as tecnologias de cada um funcione.

Em paralelo, a tecnologia de iniciador de pagamentos do Pix ganhou corpo e hoje já permite fazer pagamentos via Pix a partir do app de um banco, mas usando saldo de outros bancos, sem precisar acessar diretamente a instituição em que o dinheiro está guardado. Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander, Banco Inter são alguns dos que têm algum nível da funcionalidade para pessoas físicas e jurídicas.

No final de outubro, a XP lançou o recurso que traz saldos de outros bancos via Pix e começou a estender para toda a base de clientes a opção de compartilhar informações para a elaboração das carteiras de investimentos. Ou seja, quem tem dinheiro na poupança, por exemplo, pode receber a recomendação de uma aplicação com melhor potencial de retorno. Além disso, o cliente poderá agregar os investimentos e ter uma visão panorâmica da carteira.

'Desde a fase 2, preferimos conhecer como o sistema regulado funcionaria e entender a esteira de valor necessária para trazer algo, de fato, alinhado ao cliente. Por isso começamos só agora a incluir toda a base de clientes' diz Thiago Pontes, da XP.

A opção de fazer um Pix via WhatsApp também já está entre os brasileiros. O Banco do Brasil, o primeiro grande banco a ser habilitado a operar como instituição ITP (iniciador de transações de pagamento), anunciou no final de outubro a possibilidade da operação por meio do aplicativo de conversas. Conforme a instituição, 1,2 milhão de clientes compartilham dados de outros bancos com o Banco do Brasil por meio do open finance.