Como as empresas se protegem de eventos climáticos?
Seguradoras apontam que procura contra alagamento ainda é baixa, mas o prejuízo pode ser alto
InfoMoney - 07 de Março de 2023As enchentes que todo ano assolam o Brasil cobram um preço alto da população, ceifando vidas e deixando milhares de desabrigados, além de prejuízos financeiros para as empresas. Em 2022, as enchentes foram responsáveis por cerca de 1,3 bilhão de dólares em perdas financeiras, aponta a edição mais recente do relatório “Weather, Climate and Catastrophe Insight” elaborado pela gestora de riscos corporativos Aon. Os estados mais impactados foram Pernambuco e Alagoas, que sofreram inundações em maio e julho, e o Rio de Janeiro, no mês de fevereiro, com mais de 200 vítimas.
O cenário para 2023 é desanimador, com registros de chuvas
acima da média em curtos períodos, como as que ocorreram em Araraquara, em
janeiro; e em São Sebastião, em fevereiro — ambas cidades do estado de São
Paulo. Vale lembrar que, em março, a tendência é de chuvas próximas e acima da
média de Norte a Sul do país, segundo o Inmet (Instituto Nacional de
Meteorologia).
Na 18ª edição do Global Risks Report, estudo produzido
anualmente pelo World Economic Forum, em parceria com a Zurich Insurance Group,
Marsh McLennan, Universidade de Oxford, Universidade de Singapura e
Universidade da Pensilvânia, divulgado em janeiro, os riscos relacionados às
mudanças climáticas são considerados os principais que a humanidade terá de
enfrentar, tanto no curto quanto no longo prazo. A falha em mitigar e adaptar-se
à mudança climática, aos desastres naturais, perda de biodiversidade e
degradação ambiental representa cinco dos 10 riscos principais a longo prazo.
Todo esse cenário reforça a necessidade de governos e
empresas estarem mais atentos e preparados para lidar com esses riscos e seus
reflexos. No ramo corporativo, a principal proteção securitária contratada
pelas empresas é a cobertura para vendaval. Da mesma forma que ocorre no seguro
residencial, é uma contratação realizada à parte do ‘pacote básico’ do seguro
empresarial, que geralmente contempla os riscos de incêndio, queda de raio,
explosão e fumaça.
O corretor se seguros Richard Furck, fundador da H&H
Corretora de Seguros, reforça a importância da contratação da cobertura para
vendaval citando um caso de destelhamento ocorrido recentemente com um cliente
seu, uma concessionária localizada no bairro de Jurubatuba, região sul da
capital paulista.
“As telhas caíram em cima de vários carros zero quilômetro
que estavam no showroom, e a cobertura contratada indenizou o telhado e também
os carros danificados, em um prejuízo que passou de R$ 450 mil”, conta. Neste
caso da concessionária, Furck conta que a existência dessa cobertura evitou
ainda um outro problema, uma vez que a indenização da seguradora permitirá a
reposição das telhas que foram levadas pelo vendaval, evitando uma discussão
entre o proprietário do espaço e a empresa sobre gastos com a substituição do
telhado, uma vez que estavam em processo de renovação do aluguel.
Atualmente, os comércios de médio porte, junto com as
indústrias, são os segmentos que mais contratam a cobertura contra vendaval na
carteira da seguradora HDI. Entre todos os clientes empresariais, cerca de 60%
possuem a proteção contra vendaval.
“Vemos um crescimento na procura do seguro empresarial, mas
a penetração ainda é baixa, especialmente pequeno e médio risco. Já nas grandes
empresas a penetração é muito maior, e aí também existem produtos muito mais
específicos para esse público, como apólices de riscos nomeados ou riscos
operacionais, onde a cobertura de alagamento é bem mais presente do que a
cobertura de alagamento no seguro compreensivo empresarial. Pode sim ter
componente de lucro cessante vinculado ao sinistro por alagamento, pode ser
contratada, mas claro, demanda também uma subscrição mais detalhada e cuidadosa
do que uma cobertura básica ou por vendaval”, esclarece Igor Di Beo, vice-presidente
Técnico da HDI, comparando os tipos de coberturas que fornecem proteção para os
reflexos dos eventos climáticos extremos, especialmente as chuvas, comuns no
verão.
Danos mais recorrentes
Os danos mais comuns causados por esse tipo de fenômeno climático
envolvem desde as próprias edificações e, principalmente, seu conteúdo — como
máquinas, móveis, utensílios, mercadorias e matérias-primas existentes no local
afetado. Além do exemplo da concessionária, com a queda de tetos/telhados,
atingindo os bens existentes no local.
Em relação ao seguro empresarial, cada seguradora oferece um
leque diferente de coberturas e assistências 24 horas. Geralmente é possível
contratar coberturas adicionais para danos elétricos, danos causados por
vendaval e granizo, quebra de vidros e espelhos e responsabilidade civil de
danos morais. A maioria também oferece serviços que podem ser utilizados em
situações emergenciais, como chaveiro, cobertura provisória do telhado,
conserto de ar-condicionado e locação de microcomputadores e impressoras, entre
outros.
“Dependendo da extensão dos danos, eventos como esses também
podem provocar prejuízos pela interrupção de negócios, parada de produção. As
empresas ainda podem sofrer com a interrupção do acesso ao local, ruptura na
cadeia de suprimentos, danos à marca e perda de mercado, se o abastecimento
ficar comprometido por algum tempo”, complementa José Bailone, diretor
executivo de Seguros Corporativos e de Subscrição de Ramos Elementares da Seguradora
Zurich. Ele explica que as coberturas mais difundidas para esses casos são a de
vendaval, seguida da de alagamento, lucros cessantes decorrentes desses eventos
e, em menor escala, desmoronamento.
Para calcular o valor da apólice, é preciso avaliar o nível
de exposição ao risco, medidas de proteção e prevenção, planos de contingência,
valor segurado, e franquias de cada empresa. São fatores que acabam
contribuindo para que, em geral, a contratação acabe sendo maior por parte de
grandes empresas. Entre os segmentos identificados como maiores demandadores,
Bailone cita aqueles nos quais as matérias-primas e os produtos prontos estão
mais sujeitos a perdas decorrentes destes eventos, como indústrias
farmacêuticas e de alimentos.
“Algumas empresas de médio porte costumam buscar essas
coberturas. Já a cultura de seguros no segmento de pequenas empresas ainda tem
muito espaço para avançar no Brasil. Temos observado um movimento neste
sentido, mas nada que vá mudar o ponteiro no curto prazo. A nossa estimativa é
que apenas 20% das pequenas empresas contam com seguro empresarial para
proteção do seu patrimônio. Entre aquelas que buscam proteção (os 20%), vemos
uma preocupação maior principalmente com riscos relacionados a incêndio, roubo,
vendaval e danos elétricos provocados por curto-circuito”, alega o executivo da
Zurich.
“A ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil tem
aumentado a procura e os pedidos de esclarecimentos sob a abrangência do
seguro. Praticamente em todas as apólices de Seguro Empresarial, a cobertura
adicional de vendaval, tornado, furacão e queda de granizo é contratada”, conta
o diretor de Seguros Patrimoniais da Tokio Marine, Sidney Cezarino.
Segundo Cezarino, a companhia não identificou um segmento
com maior ou menor demanda, mas sim regiões nas quais os eventos relacionados à
natureza são mais presentes, como no Sul do país, Centro-Oeste e interior de
São Paulo. Em 2022, a seguradora registrou cerca de 1.600 sinistros (riscos
cobertos durante a vigência do seguro) envolvendo os chamados danos da
natureza, o que resultou em indenizações da ordem de R$ 22 milhões.
Os danos causados por fenômenos naturais são imprevistos que
podem ameaçar o andamento das operações de uma empresa e o mercado acredita que
a tendência é de incremento na procura por estas coberturas.
Seguro paramétrico
Entre as soluções que o setor tem desenvolvido para as
empresas lidarem com os riscos e prejuízos gerados por catástrofes naturais,
está o seguro paramétrico. Modalidade considerada nova no Brasil, consiste em
garantir a receita do cliente sempre que uma intempérie climática interfira em
seus resultados.
A apólice é customizada de acordo com o risco e utiliza base
de dados de terceiros para balizar o gatilho que ativará a indenização. “É um
seguro que foca na causa e não na consequência”, explica Caio Lhano, gerente de
crédito e seguro paramétrico da consultoria de riscos e corretora Marsh Brasil.
Apesar de ser apontada como versátil pelo executivo –
podendo ser usada, em teoria, por empresas do agronegócio a indústria e
comércio, passando ainda por logística – é uma modalidade com poucas apólices
emitidas no país, chegando a menos de 10.