Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O SEGURO OBRIGATÓRIO ESTÁ VIRANDO IMPOSTO
No meio do mês, escrevi um artigo neste espaço mostrando que estavam estatizando o antigo DPVAT, agora rebatizado de SPVAT (ambos seguros obrigatórios para acidentes de trânsito). 26 de Abril de 2024No meio do mês, escrevi um artigo neste espaço mostrando que estavam
estatizando o antigo DPVAT, agora rebatizado de SPVAT (ambos seguros
obrigatórios para acidentes de trânsito). A proposta do governo foi quase que
completamente aceita pela Câmara dos Deputados e o tema subiu para o Senado,
onde estaria a última chance do Basil ter um seguro obrigatório de acidentes de
trânsito com um mínimo de racionalidade e funcionamento eficiente.
Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Pelo andar da carruagem, o tema está
assimilado e o Senado vai votar aprovando o projeto da Câmara.
O resultado é que o SPVAT será operado pela Caixa, que não é seguradora,
nem tem condições operacionais adequadas para atender as mais de 400 mil
vítimas anuais dos acidentes de trânsito de todos os tipos que atingem a
população brasileira, nos mais variados rincões do território nacional.
O tema estava pautado para esta semana e, em cima da hora, foi retirado
da pauta de votações. Mas a razão para isso não foi um bafejo de bom senso, ao
contrário, foi uma jogada, dentro da votação dos vetos e “pautas bombas” que
ameaçam as intenções do governo.
Entre as distorções aprovadas pela Câmara está o repasse de parte
substancial da arrecadação com o novo seguro para Estados e Municípios que
tenham sistema de transporte coletivo, ou seja, praticamente todos. Tudo que
político quer é mais dinheiro em caixa, ainda mais quando esse dinheiro não é
carimbado, ou seja, não tem destinação definida. E este é o caso do SPVAT.
Então, não tem por que não votar.
Mas a situação é ainda mais complicada. Da forma como está, o seguro
obrigatório deixa de ser seguro para se transformar em imposto, com os recursos,
estimados em 15 bilhões de reais por ano, destinados ao Governo Federal, que já
pensa numa forma de usá-los, para
compensar as perdas quase certas que terá em função das votações em andamento
no Congresso.
A conversa é na cara dura. O governo pretende usar o dinheiro do seguro
obrigatório não para indenizar as vítimas dos acidentes de trânsito, mas para
resolver suas pendengas econômicas, fruto do desequilíbrio das contas públicas,
que caminham para um déficit já previsto.
Em bom português, o seguro não é mais seguro, é imposto. E os acidentes
de trânsito são só a desculpa para a sua arrecadação. Nada muito diferente do
que aconteceu com o seguro de acidentes do trabalho, que foi estatizado, segue
sendo cobrado, mas não tem sua utilização garantida, já que as vítimas desses
acidentes são atendidas pelo SUS e pela Previdência Social. Em outras palavras,
é uma forma de reforçar o caixa da Previdência.
É pena que isso tenha acontecido. O governo passado, ao acabar com o
DPVAT, mirou em gavião, mas, neste governo, o país está recolhendo uma ave
carniceira. Quem vai pagar a conta são as centenas de milhares de famílias das
vítimas de acidentes de trânsito. Como, em sua imensa maioria, são famílias
pobres, mais uma vez quem paga a conta é quem os políticos dizem defender.