Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
VAI COMPLICAR MAIS
O mundo está entrando numa crise que pode se tornar das mais sérias deste século. 03 de Junho de 2022O mundo está entrando numa crise que pode se tornar das mais sérias deste
século. A pandemia já vinha pressionando a economia global, com custos
estimados em trilhões de reais, entre perdas diretas e indiretas, para não
falar nos milhões de pessoas que perderam suas vidas por conta do covid19. O
mais dramático é que a pandemia não acabou e, mesmo com parte da população
mundial vacinada, ela é uma ameaça que pode voltar com intensidade a qualquer
momento.
Mas, se já estava ruim, a guerra da Ucrânia piorou o quadro. Com a
invasão russa o preço do petróleo passou a casa dos cem dólares o barril. Mas a
situação vai além de uma crise de preço do petróleo. O mundo enfrenta uma crise
de energia que pode ter desdobramentos seríssimos em vários países, com falta
de combustíveis de todas as matrizes, entre eles o Brasil, ameaçado de ter uma
redução significativa de diesel à sua disposição.
Para quem acha que está bom, tem mais e mais sério. A ameaça da fome é
real para centenas de milhões de pessoas, especialmente as mais pobres, com
ênfase na África, já que as nações mais ricas não perderão tempo e comprarão os
estoques existentes, ainda que a preços muito mais caros.
Essa notícia poderia parecer boa para o Brasil. Afinal, o país é dos
maiores produtores de alimentos do mundo. Acontece que se, de um lado, há o
aumento do preço dos produtos agrícolas, de outro, há o aumento dos preços dos
insumos para sua produção, além da carência dos produtos necessários para a
fabricação de fertilizantes.
O cenário de se ficar o bicho come, se correr o bicho pega ainda tem mais
uma agravante capaz de complicar mais o que já está muito complicado. A
inflação está em níveis inéditos há décadas na maioria dos países desenvolvidos
e a forma de combater seus efeitos e tentar controlá-la é aumentar os juros, o
que tem como resultado a fuga de capitais dos países em desenvolvimento para
serem aplicados especialmente nos Estados Unidos, para onde a remuneração e a
segurança do dólar atrairá grande parte dos investidores.
Como se não bastasse, o Brasil está em ano eleitoral e, para ganhar as
eleições, os candidatos estão dispostos a qualquer desatino, tanto faz as
consequências futuras que venham a ter. O país atravessa uma crise seríssima,
mas ela não é suficiente para conter a sanha eleitoreira que ameaça a
estabilidade econômica da nação.
Num cenário de vale tudo perdem todos, mas o setor de seguros pode perder
mais do que os outros. Em épocas conturbadas, o aumento da sinistralidade é uma
consequência lógica, da mesma forma que o aumento das fraudes, o que agrava o
quadro e compromete o resultado das seguradoras.
Com metade da população ganhando até um salário-mínimo, quarenta milhões
de pessoas vulneráveis à fome, a inflação em alta, os orçamentos da saúde e da
educação cortados e a fuga de capitais, temos tudo para viver tempos muito
difíceis. Tempos capazes de comprometer o crescimento nacional e o desempenho
de vários setores da economia.