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Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
RESPONSABILIDADE DO MOTOTÁXI
São Paulo vive uma queda de braço entre a prefeitura e duas operadoras de transporte por aplicativo que pretendem ter em suas frotas mototáxis. 07 de Fevereiro de 2025São Paulo vive uma queda de braço entre a prefeitura e duas operadoras de
transporte por aplicativo que pretendem ter em suas frotas mototáxis. A
prefeitura, com toda a razão, pretende impedir que o tema avance. E tem em seu
arsenal de argumentos um que é irrespondível: o alto número de mortes em
acidentes com motos nas ruas da cidade.
Faz muitos anos que o seguro para motocicletas é comercializado por
várias seguradoras que operam em São Paulo. Ao contrário do que se imaginava
antes dessa comercialização, o seguro de motocicletas não é um risco ruim por
si só. Ele é um risco ruim se for mal precificado, mas aí não é apenas ele que
deixa de ser rentável. Qualquer seguro que não leve em conta todas as variáveis
envolvidas no risco e na operação da seguradora tem tudo para ser deficitário.
O negócio do seguro se baseia em cálculos matemáticos exatos, com base em
tabelas atuarias que fornecem as probabilidades para as seguradoras. Com estas
estatísticas as companhias de seguros conseguem precificar seus produtos de
forma a torná-los rentáveis para ela e eficientes para a proteção de seus segurados
e da sociedade.
Acontece que o seguro tradicionalmente comercializado para proteger as
motocicletas não se aplica ao transporte de passageiros por motos de
aplicativos. O risco é outro, muito mais grave, não só porque o transporte
remunerado de passageiros é diferente do transporte de cargas e encomendas,
mas, principalmente, porque o risco de um acidente é muito maior. Ao fazer da
motocicleta um negócio, em vez de um meio de locomoção, o motociclista está
ampliando as chances de ter um acidente. Afinal, assim ele roda mais
quilômetros do que rodaria se usasse a moto apenas pra se locomover. E esse
risco, pela própria natureza da operação, aumenta mais se o transporte for de
passageiros.
Como se não bastasse, uma coisa é transportar encomendas, outra
completamente diferente é transportar pessoas. Os riscos e responsabilidades
envolvidas são completamente diferentes, com forte agravação para o transporte
de pessoas. Ainda que não aconteça um aumento do número de acidentes com
vítimas, o simples fato de ter duas pessoas na moto, em teoria, poderia dobrar
o número de acidentados, ou seja aumenta exponencialmente os totais a serem
indenizados, já que duas vítimas numa única moto significa mais indenizações
por acidentes.
Não sei se as seguradoras estariam dispostas a assumir este risco,
oferecendo cobertura securitária para o transporte de passageiros por
motocicletas. Supondo, apenas para argumentar, que sim, qual seria o desenho da
apólice? Importante lembrar que, nas apólices de auto, o passageiro e o
motorista não são cobertos pela garantia de responsabilidade civil. O RC
facultativo garante apenas terceiros fora do veículo segurado. A garantia aplicável ao caso seria o seguro
de acidentes pessoais de passageiros, que teria que ter suas condições revistas
para o transporte de passageiros por motos de aplicativos, porque, a partir do
momento que cobrir o passageiro, além do motociclista, terá sua abrangência
estendida e a sinistralidade aumentada.
Será que as seguradoras querem este risco?