POR UM TRÂNSITO MAIS AMIGÁVEL

O trânsito brasileiro não é famoso por ser amigável, ao contrário, quase 400 mil pessoas são vitimadas por ele, todos os anos. Neste número estão quase 40 mil mortos e a tendência é este número seguir subindo, se levarmos em conta as mais recentes estatísticas sobre o trânsito em São Paulo, no estado e no município.

De acordo com dados oficiais, até o fim de fevereiro, 900 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito em todo o estado. Só em fevereiro foram 421 mortos, sendo 179 em acidentes de moto, 95 pedestres, 78 ocupantes de veículos e 35 ciclistas. Na Capital, morreram, respectivamente, 66 em janeiro e 65 em fevereiro, alta significativa em relação aos números do mesmo período do ano anterior.

O fato mais relevante é o aumento das mortes em acidentes com motocicletas, mesmo com a Prefeitura da Capital adotando medidas como as faixas exclusivas para minimizar este tipo de evento. Neste sentido são preocupantes as pressões que estão sedo feitas para o município liberar os mototáxis, ou o transporte remunerado de passageiro na garupa de uma moto.

A matéria precisa ser analisada com extremo cuidado porque as chances do número de acidentes subir ainda mais são reais e estão baseadas numa constatação simples: os motociclistas são remunerados com base nas viagens que fazem. Assim, quanto mais viagens, mais dinheiro - e mais chances de acontecerem mais acidentes, porque os mototaxistas terão todo o interesse em realizarem o maior número de viagens possível.  

Mas não são apenas os acidentes com motos que causam preocupação. O aumento dos acidentes de todos os tipos por causa da irresponsabilidade dos motoristas é parte do cardápio e pode ser vista quase que diariamente nos jornais das TVs. Seja por colisão, excesso de velocidade, beber antes de dirigir, falta de manutenção do veículo ou outras causas recorrentes nos registros policiais, o fato é que os acidentes com vítimas estão crescendo em número e número de vítimas fatais, para não falar nos casos de invalidez, que muitas vezes são mais devastadores do que a morte.

Esta curva tem endereço certo: o preço do seguro. Não tem como as seguradoras pagarem mais indenizações sem aumentarem o preço do seguro. Vale lembrar que o aumento dos acidentes com vítimas significa também o aumento de todos os tipos de acidentes, especialmente os que causam apenas danos materiais, mas que também impactam o resultado das seguradoras porque são cobertos pelas suas apólices.

Neste momento, é complicado se pensar numa solução para reduzir o quadro dramático e caro que se instalou nas ruas brasileiras. O caos, a falta de respeito à legislação, as ruas pouco fiscalizadas e o absoluto desprezo pelo próximo estão entranhados em parte dos motoristas e não há nada que indique uma mudança de comportamento. Ao contrário, as barbaridades que são praticadas todos os dias apontam exatamente na direção oposta. Vale dizer, entre mortos e feridos, as duas linhas devem seguir em alta, com todas as consequências para a sociedade, para as vítimas, segurados e seguradoras.